Solidariedade aos gestores que pensam primeiro no interesse público

Por VALDECI OLIVEIRA

Ainda são muitas as dúvidas a respeito da covid-19, o novo coronavírus. Por outro lado, o mundo já tem algumas certezas frente a esta tragédia que não está escolhendo religião, sexo, ideologia ou classe social entre suas vítimas. Na parte das convicções, a de que o confinamento e a restrição da mobilidade social são as mais poderosas armas que a humanidade tem a seu favor contra a propagação da patologia.

Quanto menor o número de pessoas circulando, menor será a taxa de contágio, menos pessoas precisarão de atendimento nos hospitais, menor será a curva do crescimento de doentes que precisarão de atendimento intensivo. Só assim os serviços de saúde, há muito sobrecarregados por conta de outras enfermidades, conseguirão dar a atenção necessária àqueles que dependerão de leitos e tratamento especiais.

Somente com a restrição da mobilidade social e com o cumprimento de algumas regras básicas – distanciamento entre as pessoas, higienização das mãos, evitar aglomerações – é que também ganharemos alguma folga nesta corrida contra o tempo para o desenvolvimento de uma vacina. Sem isso, infelizmente, o que teremos pela frente será um cenário de caos, com hospitais não dando conta do atendimento às pessoas, com a taxa de letalidade crescendo – inclusive entre os profissionais da saúde -, com milhões de famílias chorando seus mortos sem que ao menos possam sepultá-los.

Aqui no Brasil, apesar da postura irresponsável do presidente da República (que vai totalmente contra as diretrizes do Ministério da Saúde do seu próprio governo), muitos gestores públicos – governadores e prefeitos, especialmente – estão fazendo importantes movimentos para que o impacto dessa pandemia seja o menor possível.  O fechamento momentâneo do comércio não essencial, escolas, universidades e outros locais de alta circulação de pessoas é uma medida fundamental, que deverá durar por tempo determinado e cuja modulação se dará conforme os resultados destas diante do avanço da pandemia.

Também fundamental agora é a garantia pelo estado de uma renda básica emergencial às pessoas mais vulneráveis, aos trabalhadores informais, aos autônomos e aos desempregados, medida que está sendo implementada em praticamente todos os países. O Congresso Nacional já aprovou um projeto de lei nesse sentido, por força e mobilização das bancadas de oposição, que elevaram o benefício previsto de R$ 200 para R$ 600, e o presidente da República sancionou a matéria. Mas é fundamental que esse recurso chegue logo na ponta. Ainda avalio como necessário e urgente, nesse momento de crise, que o Rio Grande do Sul também faça a sua parte contra os danos socioeconômicos do coronavírus. Por isso, defendemos – e já encaminhamos ofício ao governador Leite – que o Estado também aplique imediatamente uma política de Renda Básica Emergencial voltada, inicialmente, para crianças e idosos em situação de pobreza extrema. O governo do Mato Grosso do Sul e a Prefeitura de Salvador já fizeram o dever de casa e implantaram iniciativas como essa. O momento é de opção pelos mais frágeis.

Outra ação que se impõe é uma demonstração vigorosa de resiliência por parte dos nossos gestores. Sabemos que muitas autoridades estão submetidas a um forte assédio que advém de segmentos (principalmente setores empresariais) que encampam a defesa da abertura total das atividades comerciais e pelo confinamento apenas dos mais velhos ou daqueles que integram grupos de risco. Felizmente, essas lideranças, em sua maioria, e cito entre elas o prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobom, meu conterrâneo e um tradicional adversário no campo político, estão resistindo ao “bafo na nuca”, o que é sensato e correto em nome do interesse público. Não é hora de descuidos. Todos sabemos que é muito ruim não abrir o comércio, mas todos sabemos que não fazer isso é ainda pior, pois haverá um altíssimo custo em número de vidas, além do colapso de todo o sistema público de saúde e do ordenamento social. Não se tem como ressuscitar vidas, mas se tem – como já se provou na crise de 1929, nas duas grandes guerras mundiais e no colapso financeiro global de 2008 – como recuperar a economia.

Venho batendo na tecla que a união e o trabalho conjunto das diferentes forças políticas no estado e no país devem imperar. As diferenças ideológicas e os objetivos eleitorais não são nada diante do gravíssimo problema que temos para enfrentar juntos.  A Assembleia Legislativa está fazendo a sua parte e, com base na urgência do momento, tomou e está tomando todas as iniciativas legislativas necessárias para ajudar o Rio Grande do Sul.

Nesta encruzilhada que estamos todos submetidos, nós, enquanto sociedade, não podemos errar. Ou se errarmos, que seja pelo excesso de zelo e não pela ignorância ou ganância. Não saia de casa. Por ti, pelos teus e pelos outros.

(Imagem: Site da Universidade Federal de Goiás – UFG)