A partir de uma proposta elaborada pelo deputado Valdeci Oliveira, a Mesa Diretora da Assembleia Legislativa irá apreciar na próxima semana, entre outras proposições e atos administrativos, a concessão da Medalha da 55ª Legislatura ao jornalista Felipe Boff. A homenagem de Valdeci visa reforçar a luta dos profissionais da informação brasileiros neste momento tão grave em que estes são atacados por governantes pelo simples motivo de exercerem a sua profissão, fazerem perguntas incômodas, publicarem notícias desfavoráveis a quem está no poder e mostrarem ao público e desnudarem as relações promíscuas entre aqueles que deveriam, pela força da lei, serem isentos e neutros.
Recentemente em formatura da turma de jornalismo da Unisinos, na cidade de São Leopoldo, em que Boff foi paraninfo, o jornalista proferiu um discurso em defesa da profissão, pela liberdade de expressão e de imprensa, que “vive seus dias mais difíceis desde a ditadura militar”. A fala do jornalista foi acompanhada por vaias, gritos raivosos e intolerantes por parte do público formado por convidados e familiares dos formandos. Estes, por sua vez, se levantaram das cadeiras em que estavam sentados no palco e, em apoio a Boff e ao teor da sua fala, ficaram em pé durante todo o discurso o aplaudiram vigorosamente. “É fundamental que neste momento da conjuntura nacional todos os democratas e progressistas cerrem fileiras diante dos atos e ameaças ao estado democrático de direito e ao livre exercício profissional de jornalista”, avalia Valdeci.
Em sua manifestação, o também professor da instituição lembrou que “entre 1964 e 1985, jornalistas foram censurados, perseguidos, presos, torturados e até assassinados, como Vladimir Herzog. Hoje, somos insultados nas redes e nas ruas; perseguidos por milícias virtuais e reais; cerceados e desrespeitados por autoridades que se sentem desobrigadas de prestar contas à sociedade”.
Boff não ficou apenas nas palavras, deu nome aos bois mesmo sem citá-los. A certa altura, disse com todas as letras que o principal responsável por esse ambiente hostil aos profissionais da imprensa hoje no país é o mesmo que também elegeu como inimigos da sociedade os cientistas, professores, artistas, ambientalistas. “No ano passado, segundo levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o presidente da República atacou a imprensa 116 vezes em postagens nas suas redes sociais, pronunciamentos e entrevistas. Um ataque a cada 3 dias”, destacou, para em seguida dar seu recado: “Não, presidente, não somos uma raça em extinção. Ao contrário. Somos uma raça cada dia mais forte, mais unida, mais corajosa, mais consciente. Basta olhar para estes 21 novos jornalistas que estamos formando hoje. Basta ler os dizeres na camiseta deles: Não existe democracia sem jornalismo”.
Para Valdeci, a concessão da Medalha da 55ª Legislatura a Felipe Boff é também uma homenagem ao trabalho de “todos os homens e mulheres da mídia informativa que têm resistido às ameaças e aos ataques cotidianos que se tornaram muito comuns no Brasil de hoje. Um reconhecimento aos que lutam para mostrar o que os poderosos de plantão desejam esconder da opinião pública”.
Texto: Marcelo Antunes{
Imagem: Site Estado de Direito