Por Valdeci Oliveira –
Assunto tabu, ao mesmo tempo delicado e pesado, principalmente para os familiares e amigos das vítimas, que na maioria das vezes se culpam achando que não prestaram a atenção devida, o suicídio é um tema que nós, sociedade como um todo, precisamos dar mais atenção, olharmos e tratarmos de forma mais apurada. Infelizmente, o Rio Grande do Sul está entre os estados brasileiros cuja taxa está acima da média nacional. Se, no mundo, o indicador chega a 13 mortes para cada 100 mil habitantes, no país, ele fica em 6. Mas, no nosso estado, ele praticamente dobra, alcançando o preocupante índice de 12, há dois anos (em 2011 era de 9,9). Foram 1.342 óbitos, maioria absoluta de homens na faixa etária entre 40 e 59 anos.
Sabemos que são inúmeras as motivações que levam uma pessoa a essa situação extrema, entre elas a culpa, depressão, medo, fracasso, bullying, humilhações e cobranças sociais que se transformam – para elas – em um pesado fardo, difícil de carregar.
Na semana passada, durante reunião ordinária da Comissão de Saúde e de Meio Ambiente (CSMA), da qual faço parte, a coordenadoria do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS) apresentou dados comparativos que fez acender o alerta junto aos integrantes do colegiado. De acordo com os números do CEVS, das 11 mil mortes registradas anualmente no Brasil, o nosso estado respondeu por mais de 10%. Porém, esse trágico índice pode ser ainda maior, pois a avaliação é de que exista um alto grau de subnotificações, ou seja, casos de óbitos causados por autodestruição mas que não são registrados como suicídio. E é preciso levar em conta, ainda, que para cada 4 suicídios registrados existem aproximadamente 20 outras tentativas que não logram êxito.
Neste sentido, se reveste de grande e fundamental importância combatermos os tabus que cercam o suicídio e buscarmos, das mais diferentes formas, tornar esse tema um assunto corriqueiro e sem preconceito. É fundamental que compartilhemos informações, orientemos a sociedade e disponibilizemos o serviço público para esse sentido, além de cobrar que os gestores se debrucem sobre essa matéria e a vejam como uma questão de saúde pública. Essa é a orientação dos especialistas em saúde mental, avalizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A Organização vinculada à ONU acredita ser possível reduzir, com essas ações, até 90% dos casos.
Por conta disso, destaco uma bela iniciativa surgida a partir de muito debate e levada a cabo por entidades como o Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP): o Setembro Amarelo, uma campanha iniciada há quatro anos que visa justamente debater, discutir e alertar a sociedade sobre a relevância de tornar o assunto aberto. Setembro foi o mês escolhido pelas entidades porque o dia 10 é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. No período, além de seminários, simpósios e outras atividades públicas, diversos espaços costumam ser iluminados com tom amarelado para atrair a curiosidade e chamar a atenção das pessoas.
E, por conta dessa necessidade, que avalio urgente, solicitei à Comissão de Saúde do nosso parlamento o pedido de reimpressão de folheto informativo sobre o suicídio que trata, de forma clara, simples e didática, sua definição, sentimentos, impulsos, estatísticas, prevenção e ajuda. O material foi elaborado e teve sua primeira impressão e distribuição quando presidi a Comissão, em 2016, e se mostra útil e atual. Asseguro que esse material será distribuído em todas as cidades e regiões do Rio Grande que eu percorrer nas próximas semanas. O mesmo trabalho certamente será feito pelos demais deputados e deputadas que integram o colegiado da saúde no Parlamento. Vamos resolver a questão com essas providências? Claro que não. Mas se essas singelas iniciativas contribuírem para conscientizar algumas pessoas a respeito do enfrentamento desse mal invisível, já me darei por satisfeito.
É no silêncio e no vazio de informações e atitudes que esse ato se propaga. Calar, ignorar ou nada fazer a respeito não são os melhores caminhos. Reforço: suicídio é uma questão de saúde pública e, como tal, merece atenção social e, principalmente, políticas efetivas de enfrentamento.