As mães nos representam

No próximo domingo, se fosse possível, gostaria que todas as mães, logo ao acordarem, se deparassem com enormes cartazes defronte aos seus olhos. Neles, haveria diferentes frases coloridas escritas, todas com sentido similar. Alguns dos dizeres seriam: “continuem firmes”, “sigam em frente”, “não esmoreçam”, “precisamos de vocês”. Digo isso, pois respeito e louvo cada vez mais o papel que esses seres especiais chamados mães exercem na vida de todos os privilegiados que podem conviver com elas durante muito tempo. Eu sou um desses privilegiados. Não escondo de ninguém que a minha formação deve muito a Dona Lenir. Esta mulher, lá no interior do Rincão dos Oliveiras, área rural do hoje município de Dilermando de Aguiar, há quase meio século, foi decisiva para a minha trajetória e, com certeza, também para a dos meus irmãos.

A dificuldade financeira da família e as agruras da vida no campo foram, em grande parte, superadas pelo jeito ora carinhoso, ora duro, ora educador e ora estimulador dessa senhora. Na época, não percebia, mas hoje jamais me esqueço de muitas passagens simbólicas envolvendo a Dona Lenir. Ela talvez não saiba, mas me recordo muito bem de vê-la chorando pelos cantos nos dias em que a hora do almoço chegava e que quase nada havia para se oferecer na mesa. Lembro bem da firmeza dela em me mandar para a escola, que ficava a uns cinco quilômetros de casa. Dona Lenir era e é uma pessoa doce e calma, mas era só eu pensar em me afastar dos livros e as palmadas surgiam repentinamente. Lembro ainda que, naquela época, não reclamava de adoecer. Isso por causa da devoção dela com a nossa recuperação e com a dose de carinho extra recebida.

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Resgato um pouco dessa história particular para lembrar que, felizmente, várias donas Lenir existem por aí. Assim como eu, muitas pessoas tiveram suas vidas bem encaminhadas, porque, entre outros fatos e circunstâncias, contaram, desde cedo, com alguém presente e exemplar ao lado. No entanto, se bem observarmos, a difícil atribuição de ser mãe tem se tornado ainda mais complexa com o passar do tempo. A jornada é dupla ou tripla. Uma mãe disputa hoje a atenção das crianças com os dispositivos móveis e com uma internet cada vez mais acessível. Lida, por vezes, com a falta da figura paterna e com as ameaças do bullying, das drogas e do álcool na vida dos seus filhos. As mães têm de se impor e lidar com tudo isso sem embrutecer. E quando algo dá errado na família, os holofotes da culpa se voltam sem demora para ela.

O passar do tempo, a evolução tecnológica e a famosa globalização não oferecem vida fácil para essas pessoas incansáveis. Ainda bem que as mães parecem ter fôlego e capacidade redobradas. As mães têm a capacidade de amar mais, entender mais, respeitar mais, educar mais e de cobrar melhor. Uma mãe de verdade não discrimina, não humilha, não ofende. Elas não são perfeitas, mas, em geral, são humanas na essência. Por isso, num mundo que ainda insiste em contrapor o sentimento das mães com exemplos frequentes de preconceito, violência, individualismo e opressão, reitero o desejo de, no próximo domingo, de algum modo, dizer para elas: “continuem firmes”, “não esmoreçam”, “sigam em frente”. As mães, com orgulho, nos representam.

Artigo do deputado Valdeci publicado no Jornal A Razão desta quinta (08)