Artigo: Visite o Hospital Regional de Santa Maria, governador Leite!

12/07/2019

Um ano. Mais precisamente 371 dias. Este é o tempo transcorrido desde o início das operações do ambulatório do Hospital Regional de Santa Maria, único setor que está funcionando no complexo que ficou pronto em setembro de 2016 e consumiu mais de R$ 70 milhões de recursos públicos para ser erguido. De lá para cá, apesar de uma “inauguração” ter sido feita pelo governo passado, com direito a fotos e discursos inflamados na véspera do começo do período eleitoral, sequer um mísero leito dos 270 que constam no projeto original foi ofertado à população do município e da região, cujas localidades, somadas, abrigam mais de 1 milhão de gaúchas e gaúchos. Em suma, essa grande estrutura, de fundamental importância para a região central do estado, está em caráter de quase total ociosidade.

Mas apesar de nos causar indignação e revolta, não estamos surpresos. O Hospital Regional, como todos lembram, infelizmente, tem servido, até o momento, muito mais como um palco de promessas em períodos eleitorais do que para propriamente promover saúde. Foi assim em 2016, foi assim em 2018 e espero que não seja assim em 2020.

Desde a inauguração do primeiro ambulatório, que oferece serviços a pacientes com diabetes e doenças crônicas, o governo do estado já canalizou cerca de R$ 11 milhões ao Instituto de Cardiologia do RS, entidade privada que está conveniada à Secretaria Estadual da Saúde para gerenciar e oferecer os serviços no complexo santa-mariense. E nesta semana, passados alguns dias do primeiro “aniversário” do Regional, surgiu outro anúncio, desta vez da abertura de um segundo ambulatório, também parte do convênio com o Cardiologia. Não questionamos a importância desses dois serviços, por necessários que são. O problema é que a cada “inauguração” se busca jogar uma cortina de fumaça sobre o real problema, que são os 270 leitos até o momento indisponíveis à comunidade.

Enquanto as portas do Regional continuam trancadas, o Hospital Universitário (HUSM), vinculado à UFSM, tem uma média diária entre 40 a 60 macas colocadas nos corredores, uma situação terrivelmente dramática. Em função desse contrassenso, eu, há quatro anos, no mínimo, bato semanalmente na tecla desse tema de fundamental importância. Todas às quartas-feiras, nas reuniões da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa, eu faço a cobrança pública sobre os leitos. Mesmo sendo chato, manterei a postura de “carrapato” até que o Hospital Regional efetivamente esteja em pleno funcionamento e operando 100% pelo Sistema Único de Saúde.

O problema é que o tempo está passando e a estrutura física de 20 mil metros quadrados do Hospital está se deteriorando a cada dia que passa. Certamente, quando os leitos forem abertos terão de ser investidos mais alguns milhões em uma edificação que já foi nova um dia. Difícil crer que um estado que concede R$ 9 bilhões em incentivos e renúncias fiscais para o setor privado não tenha condições de abrir um hospital que já está pronto.

Da nossa parte, fica uma sugestão respeitosa ao governador Eduardo Leite: conceda ao Hospital Regional pelo menos 1% da prioridade que a sua gestão confere ao tema da privatização do patrimônio público do Estado, medida cujos resultados são controversos. Só 1%. Se isso ocorrer, os leitos vão ser abertos com celeridade muito maior e muitos gaúchos e gaúchas deixarão de morrer na fila da saúde ou, no mínimo, vão ganhar um atendimento muito mais digno.

Inclusive, eu não me recordo do novo governador ter feito sequer uma visita presencial ao Hospital Regional, pelo menos depois de ter tomado posse no Palácio Piratini, em janeiro deste ano. Pois isso seria fundamental. Claro que ele tem informes e deve estar a par globalmente do tema. Mas nada supera uma visita pessoal do chefe maior do Estado ao local. Acho que essa agenda fará bem ao governador, que terá maiores elementos para investir na pauta Hospital Regional, e muito mais à saúde pública de Santa Maria e da Região Central, que poderá ter um dos seus maiores pleitos reposicionado na escala de prioridades governamental. Santa Maria lhe aguarda, senhor Eduardo Leite!

Foto: André Borges/Agência Brasília