O resultado do leilão do bloco 3, realizado na semana passada pelo governo estadual, concedendo à iniciativa privada a exploração por 30 anos de 271,5 km de estradas gaúchas, da Serra ao Vale do Caí, foi duramente criticada por prefeitos, vereadores, representantes do empresariado, líderes de bancadas e deputados e deputadas presentes na reunião realizada no final da manhã desta terça-feira (19), na presidência da Assembleia Legislativa. No encontro, organizado pelo presidente do Parlamento gaúcho, deputado Valdeci Oliveira (PT), a partir da solicitação de gestores públicos e lideranças de municípios afetados pela medida, as principais críticas disseram respeito ao valor das tarifas – de R$ 6,85 a R$ 9.83 -, a falta de concorrência na disputa – apenas uma empresa se habilitou a participar e ofereceu um deságio de apenas 1,3% no valor da cobrança, contra mais de 50% em outros leilões – e a inexistência de diálogo real por parte do executivo gaúcho.
Após ouvir os participantes, cuja opinião unânime foi a de que há necessidade de o governo reconsiderar o modelo apresentado e não homologar o resultado do certame, Valdeci propôs ponderar junto ao governador Ranolfo Vieira Júnior, com quem tem uma reunião agendada para a tarde de quarta-feira (20), para que este receba uma comitiva representativa – formada por deputados, prefeitos e lideranças empresariais – e ouça as demandas das regiões que serão afetadas. “Vamos buscar para que o governo os receba o mais breve possível. O que vai acontecer daqui para lá é o diálogo que estamos tentando fazer, essa ponte entre a sociedade e o executivo. O governo, por mais divergência que tenha, precisa ouvir a população. Democracia pressupõe pensar diferente, mas também ouvir para poder dialogar”, defendeu Valdeci. Questionado se acreditava haver maioria na Assembleia com a opinião para que a homologação do leilão não deva a ser efetivada, o presidente do Legislativo gaúcho afirmou ser prematuro assegurar isso. “Mas pelo menos dos líderes, dos deputados e deputadas que estavam aqui presentes, vimos que há uma vontade para que o governo, antes de assinar e referendar o leilão, ouça as comunidades. Acho que isso é mais importante”, avaliou. “Enquanto presidente vou manter uma postura respeitosa e republicana, mas ponderarei, até o extremo, que o governo os receba”, assegurou.
“Vamos torcer para que o governo tenha sensibilidade e ouça o Parlamento gaúcho. Antes as reuniões eram feitas por nós, lideranças locais, com o governador (Eduardo Leite), com a Casa Civil e, embora se ponderasse, o governo não nos ouvia. Agora é o Parlamento, que aprovou muitas reformas do governo Leite/Ranolfo, que está mostrando que está ao lado da sociedade. O que o governo precisa fazer é reconhecer que houve um ato nefasto para a economia do RS e não homologue o edital”, afirmou o prefeito de São Sebastião do Cai, Júlio César Campani.
De acordo com o representante da Associação das Entidades Representativas da Classe Empresarial da Serra Gaúcha (CICS Serra), Elton Gialdo, que reúne 17 municípios, o modelo do leilão não foi o mais adequado e a prova foi o seu resultado. “Foi um fracasso. Ficou 60% acima de outras regiões”, afirmou. “Em Lajeado, as lideranças emitiram uma carta, também com posição ao Bloco 2 e em solidariedade às localidades (do Bloco 3)”, explicou o líder da bancada do PT, Pepe Vargas. “As contrapartidas exigidas e a conjuntura (econômica) não atraíram outros (consórcios). Não é o momento de homologar”, defendeu Tiago Simon (MDB).
Também participaram da reunião representantes dos municípios de Portão, Bom Princípio, Feliz, Montenegro e Capela de Santana.