Artigo – O bom papo entre Luciano e Haddad sobre Santa Maria

Por VALDECI OLIVEIRA

Na política e na administração pública, é comum nos defrontarmos com dois tipos de perfil de gestor: aquele mais centralizador, que puxa para si praticamente todas as decisões de vulto, ou aquele que procura mais ouvir do que falar para, dessa forma, obter um melhor resultado. Respeitando opiniões divergentes, creio que o segundo perfil me parece bem mais adequado aos tempos que vivemos. E ainda me parece que um administrador imbuído desse espírito é menos suscetível ao erro, algo que não é incomum quando se trata de decidir e encaminhar políticas públicas e atos administrativos.

Por apreciar os “radicais do diálogo”, é que saúdo a forma como o vereador Luciano Guerra tem conduzido a preparação da sua pré-candidatura a prefeito de Santa Maria. Ele está ouvindo muita gente boa sobre os mais diferentes temas que importam para a cidade. A elaboração do plano de governo dele já contabiliza o diálogo com mais de mil santa-marienses. Mas ele também está procurando escutar gente de fora, gente que já teve “canetas” muito pesadas na mão. E dias atrás, ele teve a oportunidade de dialogar por quase uma hora com o professor, ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. E como a troca de experiências foi de altíssima qualidade faço questão de repercutir aqui.

Nos quatro anos que governou a maior cidade do país, Haddad colecionou 11 prêmios internacionais, frutos do que ele chamou de “radar administrativo”, que identificava e buscava experiências colocadas em prática em outras cidades ao redor do mundo, seja da China, da Dinamarca ou dos Estados Unidos. Não importava onde aconteciam nem quem as fazia. O fundamental eram seus resultados e quem eles se destinavam. E muitos a baixo custo ou até a custo nenhum.

Dessa equação, nasceram políticas próprias que vieram ser referências que ultrapassaram as fronteiras nacionais, como as relacionadas ao urbanismo e aos direitos humanos. Mas para isso foi necessário ter audácia e não ter receio de enfrentar a complexidade da vida urbana e de implementar ações focadas na democracia participativa e destinadas à superação de paradigmas e até de dogmas.

Na visão de Haddad, Santa Maria, pelo potencial que acumula, precisa ter uma gestão ousada e ser um exemplo de gestão para outras localidades, incluindo capitais. E como exemplo citou a necessidade de existir o chamado hospital dia, que desonera as unidades maiores da ocupação de leitos, em que as cirurgias ambulatoriais permitem que os pacientes se recuperem em casa. Luciano deixou o convidado do bate-papo surpresa ao informar que Santa Maria possui um hospital – o Regional – pronto desde 2016, mas que até hoje funciona apenas com poucos leitos abertos. Haddad considerou incompreensível pelo fato de estarmos em meio a uma pandemia. Outras propostas de ações e de estudos de viabilidade sugeridas pelo ex-ministro da Educação – um dos melhores que a pasta já teve – foram a melhoria e ampliação da coleta seletiva, a viabilização de criação de um cinema público ou cinemateca (Santa Maria tem grande tradição no cinema e no audiovisual) e a criação de Centros Educacionais Unificados (CEUs), os quais são equipamentos públicos voltados à inclusão social das crianças e adolescentes que habitam as regiões de periferia.

Educação, mobilidade, gestão, finanças, sustentabilidade, inclusão digital, juventude, espaços de lazer, saúde, segurança, participação das pessoas, atração de investimentos. Tudo esteve no debate, incluindo elogios de Haddad a Luciano por ele estar disposto a aproveitar a experiência e o acúmulo das universidades locais em prol da cidade e do seu povo e a lutar para trazer para Santa Maria um campus do Instituto Federal Farroupilha, cujo modelo de educação é considerado um dos melhores do mundo. Para Haddad, que continua dando aulas no ensino superior, outra contribuição importante vinda das universidades é o seu corpo técnico e docente, de onde, aliás, buscou diversos nomes para montar seu secretariado e respectivas assessorias enquanto prefeito.

A conversa ainda rendeu boas informações sobre os programas de circulação pública desempenhadas na gestão do professor em São Paulo, que construiu mais de 800 quilômetros de extensão de ciclovias e corredores de ônibus, enfatizando que o caminho é o apoio ao transporte ativo, pedestre e ciclista, e ao transporte público de qualidade. Na iluminação das ruas também: São Paulo teve o primeiro bairro na América Latina equipado com lâmpadas de LED, mais duradouras, baratas e eficientes. São pontos de vista de um gestor que foi considerado um visionário por periódicos como The New York Times e Washington Post.

O bate-papo entre Luciano e Haddad apenas reforçou em mim um sentimento que carrego há algum tempo: Santa Maria pode e merece muito mais.

(Artigo originalmente publicado no site www.claudemirpereira.com.br)