A busca por reparação pelos ex-militares brasileiros que integraram o 20º Contingente do Batalhão de Suez, grupamento que integrou a 1ª Força de Paz da Organização das Nações Unidas (ONU) e que foi feito prisioneiro durante a Guerra dos Seis Dias, na década de 60, conta, a partir de agora, com o apoio da Assembleia Legislativa. Em uma audiência pública realizada pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos (CCDH) na noite de quarta (9), os cabos e soldados que fizeram parte do contingente, a maioria com mais de 60 anos hoje, junto com seus familiares, pediram o auxílio do Parlamento Gaúcho para que a trajetória deles não seja apagada. A atividade reuniu cerca de 200 pessoas e, além do Plenarinho, outras duas salas tiveram de ser abertas para receber o público presente. Na abertura dos trabalhos, o proponente da audiência, o deputado estadual Valdeci Oliveira (PT), explicou os objetivos da iniciativa. “Não queremos permitir que uma parte importante da história do país seja esquecida. Queremos que essa audiência tenha encaminhamentos concretos que auxiliem a luta de vocês”.
O presidente da Associação Cultural e Beneficente 1º de Agosto, que congrega membros do 20º Contingente, Wilton Melo Garcia, fez uma detalhada exposição sobre a trajetória dos ex-militares na Força de Paz de ONU e relatou os momentos de terror que os jovens soldados passaram, em 1967, ao se transformarem em prisioneiros do Estado de Israel, quando eclodiu a Guerra dos Seis Dias , conflito que envolveu esse país e uma Frente de Nações Árabes, capitaneada pelo Egito. “Passávamos o tempo todo com as armas apontadas para nossas cabeças, apenas aguardando o momento de morrer. Nós nunca saímos do Oriente Médio. Até hoje, nós ainda estamos lá. A Guerra dos Seis Dias foi a guerra que mais matou seres humanos num só dia”, recordou emocionado.
Conforme Melo, assim identificado no Exército, a tropa teve militares feridos, mortos e muitos carregam sequelas daquela missão frustrada. Depois de lutarem pela vida na conturbada região da Faixa de Gaza, epicentro do conflito no Oriente Médio, os chamados “boinas azuis” brasileiros batalham há mais de quatro décadas por reparação. Tão logo chegaram ao Brasil, ainda carregando a tensão da guerra, o grupamento foi sumariamente desligado do Exército, sem direito à avaliação médica, fato que, segundo Melo, contraria o Estatuto dos Militares. Em 1984, foi criada a Associação Brasileira dos Integrantes do Batalhão de Suez e, desde lá, de forma oficial, esses ex-militares e suas famílias buscam, com ações junto à Justiça, ao Congresso Nacional e à União, o direito a indenizações e ao reconhecimento da missão cumprida no passado. “Até hoje, nunca recebemos um único pedido de desculpas do Estado de Israel. Pior: nunca recebemos um pedido de desculpas do nosso próprio país”, revelou Melo.
Encaminhamentos – Após o relato de vários integrantes do contingente, que ampliaram a revelação das agruras enfrentadas no Oriente Médio, o deputado Valdeci Oliveira (PT) confirmou o engajamento do Parlamento na busca por soluções, através da atuação da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos, da qual é vice-presidente. Entre as ações propostas pelo deputado e aprovadas na audiência, está a elaboração de um documento oficial pela Assembleia Legislativa. O texto cobrará a agilização da análise sobre o pedido de indenização feito pelos ex-militares, o qual tramita na União, e deverá ser assinado pelo presidente da Casa e pelos outros 54 parlamentares. “Vamos levar esse documento à presidenta Dilma, ao ministro da Defesa, Celso Amorim, e aos deputados federais para que se faça a justiça devida. Não fazemos promessas, mas nos comprometemos em estar junto com vocês”, afirmou Valdeci.
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) esteve representada na audiência pelo advogado Ronaldo Farina. Ele confirmou apoio à mobilização do 20º Contingente e colocou a instituição à disposição para auxiliar na elaboração do documento que será encaminhado as autoridades federais. O Comando Militar do Sul esteve representado na atividade pelo Coronel James da Cunha. Ele afirmou que o assunto tramita na esfera federal e que manifestações a respeito ficam a cargo do Comandante do Exército no País, General Enzo Martins Peri, e do Ministro da Defesa, Celso Amorim. Ainda participaram do debate o secretário do Trabalho de Porto Alegre, Pompeo de Mattos, e o deputado estadual Edson Brum (PMDB).
Texto e fotos: Tiago Machado