ARTIGO: Valdeci Oliveira e os 161 anos de Santa Maria

Confesso que não me importo quando alguém me chama de bairrista. Na verdade, para mim, essa palavra soa como elogio. Eu, quando perguntado sobre a minha origem, estufo o peito e brado que, mesmo tendo nascido no hoje município de Dilermando de Aguiar, sou mais um dos santa-marienses da Boca do Monte. Em 1957, quando a Dona Lenir e o Seu Joreci tiveram o seu primogênito, Dilermando era um distrito de Santa Maria. A emancipação só ocorreu décadas mais tarde. Quis o destino, portanto, que eu, oficialmente, nascesse em Santa Maria. Para facilitar a compreensão disso, costumo brincar dizendo que sou um santa-mariense de Dilermando de Aguiar, ou seja, a satisfação e a honra são duplas.

Também me orgulha sobremaneira, além de ser santa-mariense e dilermandense, o fato de ser um morador da periferia da nossa cidade, já que vivo, há cerca de 40 anos, com a minha esposa Elaine, na emblemática Cohab Tancredo Neves. Tenho quase certeza que a vivência na Tancredo, na Zona Oeste, uma região popular que foi e é palco de muitas lutas sociais, contribuiu muito para moldar a minha trajetória de vida e, principalmente, a minha atuação na vida pública. Foi morando na Tancredo Neves que comemorei o nascimento das minhas duas filhas, meus maiores patrimônios. Foi ali, na Tancredo Neves, que eu recebi uma das notícias mais surpreendentes e decisivas da minha vida: a confirmação de ter sido eleito vereador, em 1988, de forma completamente surpreendente, pois fiz uma campanha repleta de dificuldades e que só foi adiante pelo apoio abnegado de um conjunto de amigos e amigas. E foi morando na Tancredo Neves que eu pude, anos atrás, ter a felicidade suprema de ter se tornado avô, um sentimento que é humanamente indescritível.

Não bastassem essas questões pessoais que tanto me vinculam a Santa Maria, eu também confesso que reverencio, aplaudo e, sempre que posso, valorizo a capacidade histórica e coletiva que o “coração do Rio Grande” tem em acolher. Como Santa Maria acolhe bem as pessoas que aqui chegam de todos os cantos do país, principalmente, para estudar, para se formar, para se pós-graduar, enfim, para ter uma vida melhor e mais digna. Eu até acho que não existe outra cidade no Brasil que possua esse mesmo dom. Isso se dá, inegavelmente, muito pelo caráter das mulheres e homens que formam a identidade do nosso povo, aliás, esse traço é a grande riqueza de Santa Maria. E ser uma cidade acolhedora, humana e plural não é pouco no momento que há um alastramento muito forte do preconceito, da discriminação e até da xenofobia no Brasil e em parte significativa do mundo.

Como a data de hoje é festiva, afinal não é todo dia que Santa Maria completa 161 anos, não vou aqui hoje detalhar os muitos desafios que a nossa cidade têm pela frente nas mais diversas áreas. Como polo de desenvolvimento regional que é, Santa Maria tem demandas de toda ordem, recursos exíguos e, por tabela, ainda sofre as consequências da apatia político-administrativa que, ao meu ver, registram-se tanto no estado quanto no país, e que impactam diretamente na condição socioeconômica local. O momento adverso na conjuntura do Rio Grande e do Brasil exige de todos nós, da “aldeia”, mais união de esforços, mais diálogo, mais trabalho coletivo e mais capacidade de superar diferenças.

Para encerrar essa pequena, mas sincera homenagem aos 161 anos de Santa Maria, quero apenas fazer um apelo a todos e todas que, verdadeiramente, amam e defendem esse território: independentemente de opiniões políticas e partidárias, não há como não reconhecer que a Universidade Federal de Santa Maria, criada pelo professor José Mariano da Rocha Filho, é um imenso alicerce desse município. A UFSM é um patrimônio educacional, econômico, científico, cultural e tecnológico que existe em pouquíssimas cidades brasileiras e que há 59 anos transforma meninos e meninas sonhadoras em profissionais renomados e especializados nas mais distintas áreas. Não vamos cometer o “suicídio” coletivo de abrir mão ou de precarizar uma ferramenta que garante milhares de empregos e que responde por mais de 20% do PIB local. Acreditar que as universidades foram tomadas de assalto por legiões de pelados ou por consumidores ensandecidos de drogas não combina com uma cidade que exporta inteligência para o Brasil, para o Rio Grande e para o mundo.

Defender a UFSM é defender Santa Maria! Parabéns a todos e a todas as santa-marienses pelos 161 anos de história! Não vamos parar de lutar por esse chão!

*Foto de Maiquel Rosauro