Artigo – Surto de Dengue e de Incompetência na Saúde do RS

Por Valdeci Oliveira –

O desleixo com a saúde pública no RS, que deixa de existir apenas nas peças de marketing do governador Eduardo Leite, está cobrando um preço alto dos gaúchos e gaúchas. Ao trabalhar apenas nas articulações políticas para ser candidato a presidente da República ou a uma vaga ao senado em 2026, o chefe do Executivo estadual deixa o interesse social sem o cuidado e a atenção necessários. Não que antes houvesse verdadeira preocupação, mas agora, com mais uma crise em praça pública, sequer há justificativas, mesmo as surradas, que sustentaram suas desculpas no passado.

O fato é que o Executivo Estadual, além de um enfrentamento sério contra a gripe aviária, precisa autorizar ações imediatas da Secretaria Estadual da Saúde para conter surtos de dengue, como no município de Cachoeira do Sul, e para que seu governo cumpra a lei da aplicação mínima de 12% da receita corrente líquida em ações de saúde pública, como determina a Constituição e a Lei Complementar 141/2012. Hoje não passa de 9%.
De acordo com números da Vigilância Epidemiológica, nos últimos sete dias houve um aumento de 229 casos de dengue em Cachoeira, totalizando 715 deles de janeiro até agora, além de outros 15 considerados sinal de alarme grave, dois de Chikungunya e 3 óbitos. E isso é alarmante, pois estamos falando de uma cidade pequena que, proporcionalmente, perde apenas para Porto Alegre em número de mortes.

As digitais da irresponsabilidade do governador também estão na superlotação dos hospitais da Capital e da Região Metropolitana por conta do crescente acometimento de doenças respiratórias por parte da população, o que levou as unidades de saúde a priorizarem casos de maior gravidade e risco de vida dos pacientes. Diante do cenário, Porto Alegre decretou emergência em saúde pública no último dia 16.

Não é preciso ser especialista para vincular surtos de dengue e superlotação de unidades a não aplicação dos 12% em investimentos em saúde. Se a lei fosse cumprida, teríamos um acréscimo de R$ 1,2 bilhão ao ano na rede e no sistema públicos de todo o RS. Não é pouca coisa.

Considerando que para recompor a inflação e o aumento do custeio do setor é preciso cerca de R$ 500 milhões ao ano, a política atual faz com que ‘enxuguemos gelo’, dando atenção apenas quando não se tem mais o controle da situação.

Dinheiro não falta, principalmente a partir dos bilhões em aportes feitos pelo governo federal após a crise climática do ano passado. O que falta é respeito, compromisso e vontade política.

*Artigo originalmente publicado no jornal Diário de Santa Maria – edição de 29/05/2025