Por VALDECI OLIVEIRA –
O país tem produzido mês a mês um verdadeiro exército de “sem empregos”. No total, o Brasil encerrou o ano passado com 27 milhões de pessoas entre desocupados e aqueles que trabalham menos horas do que gostariam (e precisariam), além de 4,7 milhões de desalentados (que desistiram de procurar trabalho) – ambos no maior nível da série. E isso é muito grave, pois nos coloca na perigosa situação do chamado desemprego estrutural, aquele de longa duração, que considera as pessoas desocupadas há mais de 12 meses. No desemprego estrutural, a falta de vagas não é mais resultante apenas de um momento pontual, ela faz parte da estrutura socioeconômica de um país, de seu processo de produção.
E quando nos deparamos com os dados oficiais da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho (o Ministério do Trabalho foi extinto) sobre os empregos gerados nos últimos meses, vemos que as empresas estão oferecendo vagas precarizadas, ou seja, trabalho em condições infinitamente inferiores do que as anteriores, com salários menores e com menos benefícios e direitos sociais. E a tendência é que o mercado de trabalho não melhore, pois, as medidas tomadas até aqui foram pensadas com o objetivo de que esse pode se regular sozinho, com mínima intervenção e fiscalização do Estado, o que beneficia somente um dos lados: o dos empregadores.
Diferentes escolas de economia, por mais divergências que tenham no campo teórico, concordam em um fato: o que gera emprego não é a retirada de direitos dos trabalhadores nem tornar sua contratação mais barata. Isso gera aumento de lucro, e só. Nenhum empresário contrata somente porque está mais barato fazê-lo. As empresas irão contratar quando sentirem aumento de demanda. Fora isso é se utilizar da boa-fé das pessoas para justificar medidas como a terceirização sem limites, a reforma trabalhista e agora a reforma da previdência, que retiraram muitas conquistas de quem trabalha.
A criação de postos de trabalho está ligada ao desenvolvimento econômico, ao investimento público em infraestrutura, ao ganho real de salário, ao fomento e apoio a setores estratégicos. Com emprego, tem-se salário, que gera renda, que resulta em consumo, que, por sua vez, alavanca a produção e a geração de impostos e divisas. É, sem nenhuma novidade, a chamada roda viva da economia, que precisa ser colocada para funcionar. Sem isso nos afogaremos na recessão, onde um resultado negativo puxa outro e assim por diante.
Pois, estranhamente, no momento que o país tem essa crise gigante de oportunidades de trabalho, fala-se muito pouco a respeito. O tema do desemprego está apartado da agenda nacional. Enquanto se debate a cor das roupas das meninas e dos meninos, quase nada se diz sobre a criação de frentes de trabalho, o enfrentamento à desindustrialização, o apoio aos pequenos e médios empreendedores e o incentivo à agricultura familiar e à economia solidária.
A construção civil é uma área que, se estimulada, rapidamente pode gerar vagas em massa. Porém, pela medição do IBGE, o setor completou a 20ª queda consecutiva de atividade desde 2016. A redução drástica dos recursos do Minha Casa, Minha Vida atingiu em cheio o segmento. Entre 2014 e o começo desse ano, 1,2 milhão de postos de trabalho desapareceram nas obras do país afora.
No setor petroleiro, há pouco mais de cinco anos, a Petrobras tinha quase 450 mil trabalhadores contratados. Três anos depois, contabilizava 58% menos. Já o setor de serviços registrou o pior resultado para um mês junho desde 2015. E o que dizer da desmobilização do polo naval? O fato é que setores com alta potência para gerar empregos estão na lona.
Em um momento delicado não custa fazer um apelo público ao mandatário da nação, que é quem tem “a caneta” do país hoje: é preciso descer do palanque eleitoral, é preciso tomar atitudes que estimulem a geração de empregos, é preciso agir mais como bombeiro do que como incendiário e é preciso parar de encarar o setor educacional como inimigo.
Mas o nó não está só em Brasília. Estados e municípios também devem pautar o tema da geração de empregos com muito mais força. O Rio Grande do Sul, cuja agenda atual resume-se em vender, sucatear e parcelar, está bem atrasado nesse sentido.
Ao fim e ao cabo, temos dois caminhos a seguir: podemos passar dias batendo boca e averiguando qual partido é o vilão da história ou podemos, juntos, procurarmos soluções a respeito. Sem titubear, vou optar pela segunda opção. Disputas estéreis e insanas podem gerar um monte de coisas, mas não produzem empregos nem dignidade.
Foto: Divulgação EBC