Por Valdeci Oliveira –
No completamente atípico ano de 2020, fomos forçados a nos reinventar, a entender os processos por outros ângulos, a reaprender a viver em sociedade. Nos últimos meses, todos nós, quase sem exceção, sofremos, choramos e nos angustiamos muito e ainda seguimos fortemente preocupados e mobilizados na dura tarefa de superar um vírus que surgiu repentinamente para colocar em xeque nossas certezas, tirar vidas, nos afastar de quem amamos e para tornar ainda mais cruel uma sociedade já marcada pela desigualdade e pela injustiça social.
A pandemia jogou por terra antigos paradigmas e modos de vida que acreditávamos imutáveis. E, dentro desse turbilhão de mudanças, o Natal – seja em seu espírito como em sua forma – também precisou sofrer alterações. Mesmo em se tratando de um Natal em uma pandemia, diante de tanta dor, medo, apreensão e dúvida, e talvez até mesmo por conta disso tudo, nós não podemos jamais perder a esperança em dias melhores e em momentos de alegria e realização. Sou um otimista convicto, que acredita firmemente ser possível avançar e superar desafios, por maiores que sejam. E essa minha certeza, que procuro passar a todas e todos com quem falo, me faz vislumbrar que os sacrifícios do isolamento social, que ainda deveremos fazer neste Natal e nesta virada de ano, serão recompensados ano que vem.
Por conta de tudo que passamos neste 2020 – e pelo que deveremos passar ainda pelos próximos meses -, sinto, inclusive, que o espírito desse Natal deva ser vivido em dobro. Por não podermos estar com todos a quem amamos, devemos abraçar ainda mais forte quem está fisicamente ao nosso lado, beijar ainda mais forte os rostos daqueles e daquelas que estão conosco, desejar ainda mais, agradecer ainda mais, apertar mais firmemente as mãos que nos alcançam. Devemos olhar tudo com mais gratidão.
Neste Natal, a ciência e a fé sentarão lado a lado ao redor da mesma ceia, abrirão juntas os presentes, irão rir das lembranças e, com suas taças e braços entrelaçados, brindarão pela vida como se fossem uma só, desejarão, cada uma ao seu modo, o melhor a todas e todos. E assim, daqui a 12 meses, de uma forma ou de outra, nós vamos estar vacinados e afastados do risco do coronavírus, vamos poder voltar, mesmo que dentro de um “novo normal”, ao aconchego dos abraços fraternos dos nossos amigos e parentes, possivelmente com mais emoção com que fazíamos antes. Essa pandemia nos ensinou a dar valor às pequenas coisas, aos pequenos gestos, aos sentimentos muitas vezes abafados, às mostras de carinho por vezes abandonadas. Nos ensinou o valor da solidariedade, desnudou os dramas dos invisíveis, nos mostrou que o mundo é um só e que, não importando a distância, todos temos que agir no mesmo rumo, buscar o mesmo horizonte.
Eu particularmente estou ansioso para receber a vacina e poder sair por aí ao lado dos meus netos, das minhas filhas e da minha esposa. Quis o destino que o meu neto mais novo, o João Bento, nascesse exatamente no ano da pandemia. E não imaginei o quanto seria difícil passar a maior parte do tempo longe dele, sem sentir o seu cheiro, ouvir o seu choro, ter seu leve peso sobre o meu peito, sentir sua pele macia por meio do meu tato. Mas isso não foi algo exclusivo e é até pequeno diante da conjuntura posta. Comparando com muitos, sou um privilegiado, uma pessoa de sorte. E agradeço sempre, todos os dias, por isso.
Para evitar qualquer tipo de risco e buscar controlar a transmissão do vírus, cada um e cada uma precisou superar pesados obstáculos, muitas famílias enfrentaram e ainda enfrentam o drama da dificuldade de sustentar os seus em um cenário de desemprego e de crise social. Milhares de outras ainda choram por seus entes queridos levados pelo patógeno.
Se o caos, como diziam os antigos gregos, é o momento de renascimento, de reaprendizado, de reavaliações, isso já é um grande motivo para ficarmos um pouco mais felizes nesta que, desejo, seja a reta final de um longo caminho que fomos obrigados a trilhar neste ano.
Como eu disse no início deste texto, sou otimista, sou daqueles que, desde que tudo isso começou, elegi a esperança como o verbo primeiro. E peço a todos que o usem muito, diariamente, à exaustão, pois ele é fundamental para não esmorecermos, não deixarmos mais ninguém pelo caminho e ingressarmos em 2021 acreditando ainda mais na vida.
Aqui dentro, do lado esquerdo do peito, tenho a convicção que juntos, fraternalmente irmanados e solidários, vamos fazer a diferença nesta travessia para uma época que seja marcada pela inclusão e pela proteção à existência humana, pois nada importa mais do que o direito à vida e à dignidade.
Por isso, neste momento, a minha mensagem e a mensagem da minha família são uma só: saúde, superação, esperança e empatia. Nós vamos vencer, podem acreditar nisso!
Um grande abraço, um feliz Natal e um ano novo de paz e muita vida para todos e todas!