Por Valdeci Oliveira –
Passados 8 meses desde que a natureza, tão agredida pela raça humana e seu modo de vida, nos pregou uma peça de muito mal gosto, vimos que, não fosse o trabalho conjunto de esferas públicas, ONGs e muita gente anônima, o estrago teria sido ainda maior e a superação mais lenta e difícil. Com a tragédia climática, o Brasil inteiro parou, ajudou, ficou chocado e assustado com o sofrimento de milhares de atingidos no nosso Rio Grande. E viu a máxima, por anos repetida, de que éramos um país fora desses problemas, ficar definitivamente para trás. Passados 8 meses, a resposta foi e continua sendo dada, conforme avançam as ações de reconstrução, fruto de um trabalho diuturno, incessante, incansável e por óbvio sob pressão, pois não poderia ser diferente diante do tamanho da devastação ocorrida e das respostas e atendimento necessários para que a vida de toda uma população volte ao normal no menor espaço de tempo. E isso inclui o restabelecimento da mobilidade urbana e aérea, a manutenção dos empregos, a garantia de renda, moradia, segurança alimentar, atendimento em saúde, atividades econômicas, entre muitas outras.
O trabalho inicial da Secretaria de Reconstrução, que foi chefiada pelo ex-ministro Paulo Pimenta, de levantamento e de busca de informações junto às prefeituras, mapeamento, de mobilização das forças de segurança e resgate, de articulação e de parceria com o governo estadual, foi fundamental para a ampliação da liberação de recursos emergenciais e posterior aumento por meio de um plano mais amplo, discutido e elaborado para dar conta das necessidades do RS. Desde então, já se contabiliza mais de R$ 110 bi entre recursos novos, adiantamentos de transferências, benefícios sociais, congelamento do pagamento e dos juros da dívida do estado por 3 anos, auxílios emergenciais, repasses a prefeituras, obras de infraestrutura e financiamentos e crédito a empresas e agricultura, grandes e pequenas. Só no último caso, via BNDES Emergencial, foram perto de R$ 18 bilhões acessados.
E todo esse esforço, como num quebra-cabeça, onde as peças não apenas formam uma imagem, mas atuam em sinergia de esforços, está colocando o RS de pé novamente. Ao olharmos os números da arrecadação estadual nos meses seguintes ao colapso, vemos, por exemplo, que a nossa economia teve garantida sua recuperação justamente com a injeção de recursos públicos federais diretamente para a iniciativa privada, famílias, prefeituras e governo do estado. Nossas finanças – públicas e privadas – não entraram em colapso como se temia e era até esperado, muito pelo contrário. A título de exemplo, em agosto passado, o RS voltou a registrar recolhimento recorde de ICMS, arrecadando R$ 4,9 bilhões, valor não somente o maior de 2024 até aquele momento como também de toda a série histórica da Receita Estadual. Em julho, 60 dias depois da enchente que havia desalojado mais de meio milhão de pessoas, alagado uma área equivalente a 3,5 milhões de campos de futebol e atingido 418 municípios, a cifra havia alcançado R$ 4,5 bilhões, uma elevação significativa tanto na comparação com o mês anterior como com o mesmo mês de 2023.
A escolha política do presidente Lula de não medir esforços para ajudar o nosso estado, somado ao comprometimento do ex-ministro Paulo Pimenta de colocar em prática e até mesmo avançar na orientação, nos mostra hoje ter sido fundamental para, passados 8 meses daquelas tristes imagens, chegarmos onde estamos hoje, vendo entregas sendo feitas (24 mil moradias entre aprovadas, contratadas e disponibilizadas), o estado podendo organizar seus investimentos e avanços em infraestrutura sendo concretizados ao longo de 2025, pois são obras de grande porte que não ficam prontas do dia para noite, ou em poucas semanas, como a construção e elevação de diques e as 377 pontes que tiveram suas obras de reconstrução aprovadas em 120 municípios.
E isso não se trata de sorte, mas de políticas públicas sérias e comprometidas com o objetivo de devolver aos gaúchos e gaúchas a vida que tinham antes da tragédia. A alocação de recursos e o número de frentes de ação foram tamanhas que, inclusive, interferiram significativamente no orçamento federal. Não fosse a tragédia, os resultados contábeis e a busca por superávit primário da União teriam sido muito melhores em 2024. Mas teriam sido apenas números diante da angústia e do medo de todos, principalmente de quem ficou com pouco ou sem nada, se viu ilhado, viu o pavor na sua frente e chorou a dor pela perda de um ente querido. E, tenho certeza, teria sido um resultado vazio, que não faria nenhum sentido de existir para pessoas como o presidente Lula e o ex-ministro e deputado federal Pimenta, dois humanistas que conheço bem e cuja parceria possibilitou colocar o RS novamente nos trilhos.
Foto: Ricardo Stuckert/PR