Por Valdeci Oliveira –
A depender do horário de leitura deste artigo, faltarão menos de 48 horas para que exerçamos o nosso direito ao voto e da escolha daqueles e daquelas que ditarão os rumos das cidades brasileiras pelos próximos quatro anos. E essas escolhas passam, invariavelmente, pelos nossos desejos, sentimentos, necessidades, frustrações e esperanças. E passam também por um conjunto de outros fatores, como informação, memória, discursos e empatia. No fim das contas, estarão no comando dos executivos e legislativos municipais mulheres e homens que foram escolhidos por nós, que receberam nosso aval para nos representar, para elaborarem as leis e executarem as ações necessárias para que tenhamos, em diferentes graus e aspectos, acesso a serviços públicos como saúde, educação e infraestrutura, entre outros. Enfim, se trata de cidadania, do nosso dia-a-dia. Se trata do que se convencionou chamar de realidade primeira, aquela que enxergamos logo que abrimos a porta de nossas casas, quando caminhamos por nossas ruas, pegamos um ônibus ou conversamos com nossos vizinhos. É a realidade que não deixa dúvidas, independentemente de quem é o presidente da República ou o governador do estado.
Mas o voto e o seu resultado, que num primeiro momento parece apenas se tratar de um simples apertar de botões, é mais complexo e traz junto de si uma série de desdobramentos futuros. A sua elaboração é tão cheia de meandros e sutilezas que muitas vezes as pessoas o utilizam contra seus próprios interesses, votam contra aquilo que realmente acreditam, necessitam e que lhes é de direito. E, na maioria das vezes, o fazem sem se dar conta, como que por impulso, sem pesar os pós e contras, como se não houvesse tido um ontem, não tivessem vivido o hoje e inexistisse o amanhã. Um voto vale por quatro anos. Pouco em se tratando de uma vida inteira, mas muito quando seu resultado será por nós sentido diariamente, com reflexos imediatos sobre a nossa vida cotidiana.
Dizem, e concordo com a assertiva, que a escolha do voto melhora conforme o praticamos. A cada dois anos, temos esta bela oportunidade que, em última análise, se configura como um julgamento em que o papel de juiz cabe individualmente a cada pessoa. Porém, estamos falando em tese e devemos considerar que em sua elaboração existem ingredientes que muitas vezes nos passam despercebidos. Entre eles, há o hiato, o espaço entre uma eleição e outra, período em que a maioria das pessoas se desliga da política, não participa dos seus desdobramentos e dos seus resultados, um terreno fértil para as fake news e a desinformação proposital.
E esse afastamento muitas vezes se configura numa miopia que nos impede de ver, por exemplo, que os mesmos que lá atrás defenderam fervorosamente a saúde ou a educação aprovam, eles próprios ou seus partidos, leis que reduzem os investimentos a essas áreas tão fundamentais, como se uma coisa não estivesse intimamente ligada a outra. Essa espécie de distorção da realidade também faz com que nossa visão fique embaçada, nos impeça de unir nomes a práticas partidárias, a não considerarmos que partido significa parte, agremiação que une num mesmo espectro pessoas que defendem projetos muitas vezes contrários àqueles que nos garantem direitos enquanto classe social. Muito dificilmente um partido formado pela visão elitista – ou com ela comprometido – dos mais abastados colocará em prática questões de interesse da maioria da população. Parece simples e o é. São interesses diferentes, compromissos distintos, comprometimentos que não cabem no rol de direitos sociais ou civis do povo por mais que digam ou prometam o contrário.
O voto, o nosso voto, é um poderoso instrumento de transformação quando bem utilizado, quando não contaminado por falsas promessas, quando avaliado a partir das realidades postas, das atitudes dos homens e mulheres e seus respectivos partidos.
O voto vale mais que um quilo de arroz ou um milheiro de tijolos. O voto se forma com memória, com o real. Ele é o bilhete de passagem que pode tanto nos levar à estação da cidadania quanto à plataforma do fundamentalismo político e religioso. No fim das contas, seu resultado depende exclusivamente de nós.
Boa escolha neste dia 15 de novembro. Não deixa de comparecer, de máscara, ao seu local de votação. A democracia agradece e se fortalece com a presença de todos nós na eleição.
(Artigo originalmente publicado em www.claudemirpereira.com.br)