Sem dúvidas, um dia muito triste este domingo, 17 de abril de 2016. É difícil assimilar que a democracia brasileira, duramente conquistada em um passado não muito distante, sofreu um golpe tão rasteiro como o de hoje. A maioria do Congresso Nacional entendeu que uma presidente que jamais cometeu crime de responsabilidade é passível de impedimento. O desvirtuamento foi tamanho que a oposição abriu um pedido de impeachment em virtude de supostas pedalada fiscais e, no plenário do Congresso, admitiu que isso foi apenas um subterfúgio. Raríssimos deputados a favor de Michel Temer mencionaram as pedaladas em seus pronunciamentos no microfone. Ora, isso trata-se, sim, de golpe. De atentado a democracia. De enfraquecimento da legalidade. De desrespeito à Constituição. Querem arrancar uma presidente eleita pelo povo porque querem o poder a qualquer preço. Porque jamais assimilaram a derrota eleitoral de 2014. Jamais aceitaram o resultado das urnas.
Os nobres deputados fariam, de fato, um favor à nação se, em vez de Dilma, que, repito, jamais cometeu crime de responsabilidade, afastassem do Congresso aquele que justamente comandou, de maneira ardilosa, a sessão do impeachment. O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, responde a uma série de denúncias por ter recebido milhões em propina, por possuir contas clandestinas no exterior e por interferir em investigações conduzidas pelos órgãos de controle. Pois esse cidadão, que publicamente foi chamado hoje de bandido, de ladrão e de tirano por diversos dos seus próprios pares, permanece blindado de punições e responsabilizações. Um processo de impedimento articulado e comandado por uma figura espúria como essa soa como um deboche, soa como uma tapa na cara da sociedade que reivindica um país livre de corrupção e de malfeitos.
Sim, quem batalha permanentemente para que a jovem democracia nacional seja atualizada e fortalecida está muito triste hoje. Eu estou triste. E sei que boa parte da população brasileira tem o mesmo sentimento. A nossa tristeza, no entanto, é momentânea e não vai nos paralisar. A mobilização contra o golpe, mesmo que parcialmente derrotada, mostrou que a pauta de democracia é cara por demais para a sociedade brasileira. Milhões saíram das ruas nas últimas semanas para reativar a Campanha pela Legalidade, tão bem capitaneada por Leonel Brizola em 1961.
Pois esses milhões não ficarão acuados. A luta vai prosseguir intensa nas ruas, nas redes, no Senado Federal e, se necessário, no Supremo Tribunal Federal. O jogo não está jogado. Há etapas a serem cumpridas ainda. Enquanto houver oportunidades de resistir, nós resistiremos. Faremos isso de peito erguido e com a cabeça erguida, pois a história se encarregará de mostrar o lado da trincheira que defendemos. Quem sempre esteve na luta social continuará mobilizado por um Brasil mais justo, mais democrático, mais inclusivo e mais solidário. Meu grande abraço a quem empunhou e continuará empunhando com vigor a bandeira do Estado Democrático de Direito, da cidadania e da liberdade.
Valdeci Oliveira, deputado estadual (PT)