Depois das frutas, legumes e verduras frescos incorporados à alimentação dos pacientes e seus acompanhantes, iniciado no ano passado, agora, com a segunda chamada pública assinada nesta sexta-feira (8) pelo do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM-UFSM/Ebserh), que é 100% SUS, com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh,) para a aquisição de produtos da agricultura familiar, também estão sendo incluídos no cardápio grãos, laticínios, massas e outros alimentos produzidos por famílias de pequenos agricultores gaúchos organizados em mais de uma dezena de cooperativas. Desta forma, o hospital irá adquirir novos produtos orgânicos para oferecer aos pacientes e colaboradores: serão 7,2 toneladas de arroz branco, extrato de tomate e molho de tomate, além de 2,4 toneladas de produtos para pacientes com restrição alimentar (sem glúten e lactose).
A cerimônia, realizada no auditório do HUSM, reuniu direção e servidores do Hospital, o presidente da Conab, Edegar Pretto, vereadores, representantes da prefeitura e das cooperativas. Nesta segunda fase, o acordo de cooperação técnica celebrado de julho de 2024 foi ampliado, agregando mais 30 produtos à lista, o que equivale a mais de 55 toneladas de novos alimentos da agricultura familiar, alcançando o valor de R$ 1.071.831,16. A iniciativa, até o ano passado inédita no país (quando resultou numa chamada pública totalizando 108 toneladas de alimentos com o valor de R$ 844 mil), funcionou como um projeto piloto e agora será replicada em outros hospitais da rede Ebserh e representa mais um passo na efetivação de uma política pública do governo Federal estruturada que articula, numa mesma ação, saúde, abastecimento e desenvolvimento rural. “O que estamos fazendo aqui vai na direção de garantir que as compras públicas absorvam parte da produção da pequena propriedade familiar. E vamos também achar uma saída para a questão do ‘tarifaço’ dos Estados Unidos. Já tiramos a tarifa de 50% de mais de 700 produtos e o presidente Lula irá anunciar nos próximos dias, e a Conab estará junto, a compra do excesso (da produção e/ou do que não for exportado), principalmente dos pequenos, garantindo que não tenham prejuízos. Vamos comprar para os hospitais, para as cozinhas comunitárias, para a merenda escolar. E outra boa notícia é que irradiamos essa bela iniciativa feita aqui (no HUSM) em Santa Maria para o Brasil”, afirmou Edegar, listando também as diversas ações do governo brasileiro, com a participação da Conab, que resultaram, pela segunda vez, na saída do país do Mapa da Fome da ONU, como os programas de transferência de renda, fortalecimento da Companhia, reativação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), restauração dos estoques reguladores, entre outros.
Fornecedores estratégicos – A aquisição dos alimentos está sendo feita por meio da modalidade Compra Institucional do PAA e coloca pequenos agricultores como fornecedores estratégicos para o sistema público de saúde. “Esse é um daqueles exemplos de parceria que resulta num ‘ganha-ganha’ e que deve ser celebrado pela sociedade. Ao mesmo tempo em que você tem alimentos de qualidade incomparável incorporados à dieta de quem se recupera eu um hospital, a compra desses produtos fortalece e reconhece um segmento importantíssimo, não só do ponto de vista comercial, mas social, que é a agricultura familiar”, avaliou o deputado Valdeci Oliveira, coordenador do Parlamento estadual do Movimento Rio Grande Contra a Fome, espécie de força-tarefa criada em 2022 e que reúne todos os poderes do estado e entidades e organizações da sociedade civil para ações de combate à insegurança alimentar no estado. O modelo adotado pela Rede Ebserh também vem sendo utilizado pelo RS Contra a Fome. “Nós conseguimos adquirir mais de 75 mil cestas básicas de pequenos produtores, o que garantiu a sobrevivência de várias cooperativas aqui no estado que atravessavam dificuldades. Nosso objetivo é o mesmo: levar alimentação de qualidade para quem precisa. E essa parceria do HUSM e da Conab é um sonho que está sendo realizado, pois as cooperativas e a gente que saiu da roça aos 18 anos sabe da importância desse modelo para quem produz, para quem trabalha na terra, além de oportunizar que outros alimentos venham a ser incorporados e outras cooperativas participarem do processo”, avaliou Valdeci.
“É alimento de qualidade que vai estar chegando também aos pacientes do Hospital Universitário. É uma ação que gera desenvolvimento de verdade. Até pouco tempo atrás era inimaginável que a agricultura familiar pudesse estar atendendo escolas, hospitais, prefeituras, o Exército, etc. E Hoje isso é realidade, o que é extraordinário”, destacou Alcione Claro, representante da Unicentral, entidade que reúne cooperativas da Região Centro do estado, que ao lado de Gervásio Plucinski, presidente da União das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária do RS (Unicafes), representou os trabalhadores rurais no ato de formalização do acordo.
Infraestrutura precária – Para o reitor da UFSM, Luciano Schuch, em contraste com a política pública que estava sendo assinada naquele momento, um dos grandes desafios do estado diz respeito justamente à precarização da infraestrutura de apoio aos pequenos produtores. “Como fixar o homem no campo se não têm estradas, logística, internet, se não há estrutura básica? Essa é uma luta muito grande e esse é o nosso objetivo (com essa parceria). E o Programa de Aquisição de Alimentos é um grande incentivador, pois consegue garantir renda, que a produção feita será adquirida e dar segurança para que cada vez mais se plante”, afirmou. “Antes, nós nos preocupávamos em cortar ou não cortar a grama aqui do Campus. Hoje, isso não é mais preocupação. Hoje nosso foco é tocar grandes obras e grandes projetos, pois hoje temos um governo realmente engajado com as universidades públicas, gratuitas e de qualidade”, completou Schuch. “Hoje, com 38% da alimentação do Hospital vindo da economia solidária, os pacientes referem que o gosto, o sabor da alimentação melhorou, ou seja, a comida não é mais de ‘hospital’, tem gosto de sabor. E isso é importante, pois se faz saúde com carinho, com qualidade, com essa subjetividade. Saúde não é apenas dar uma injeção, fazer uma cirurgia. Isso faz parte, é um componente, mas não o único e talvez não o principal. A saúde é multifacetada, é cuidar do paciente, é ensino, inovação, projetos de extensão, pesquisa, é fazer desenvolvimento econômico. E o SUS vai muito além de um plano de saúde, ele é o motor da economia nacional e um motor aqui, da economia regional”, comparou Humberto Palma, superintendente do HUSM.
A lista dos alimentos que serão adquiridos pelo HUSM incluiu aipim descascado e congelado, arroz, bacon, bebida láctea, bolos de chocolate, fubá sem glúten, de laranja, de milho, broa de maisena, extrato de tomate comum e orgânico, farinhas de milho e de trigo integral, feijão, filé de tilápia, geleia/doce de frutas, iogurte integral (tipos com polpa de frutas, desnatado, sem açúcar, sem lactose e desnatado), leite em pó e UHT (tipos desnatado, integral, semidesnatado e zero lactose), massa com ovos (tipo espaguete e parafuso), molho de tomate orgânico, suco de fruta (sem adição de açúcar, corantes e conservantes) e suco de uva roxa (100% natural), entre outros.
Foto: Christiano Ercolani