Por Valdeci Oliveira –
Dentro do redemoinho que se tornou a política brasileira, onde a cada semana um turbilhão de acontecimentos acaba atropelando outros fatos, o resultado é que muitas coisas passam a quase não existir. Digo quase porque, mesmo não estando na arena dos principais debates, muitas vezes seus efeitos chegam em sua versão mais dolorida.
Passando ao largo da opinião pública, a baixa imunização da população vem fazendo vítimas pelo caminho. Aqui no RS, o número de óbitos no último período, por conta de infecções respiratórias, é proporcionalmente maior do que os registrados na mesma época da epidemia de H1N1, em 2009. Além disso, 80% das vítimas – a maioria crianças e idosos – não tinham se vacinado. Quando olhamos apenas para o mês de junho no estado, chegamos a 94%, mesmo com o imunizante estando disponível gratuitamente nos postos desde o mês anterior. O imunizante não livraria totalmente as pessoas de ficarem doentes, mas impediria o agravamento de casos e a superlotação das emergências hospitalares.
Se num passado recente, quando o Brasil, por conta de uma política de austeridade – o chamado Teto de Gastos -, começou a experimentar seu declínio na cobertura vacinal, nos anos seguintes, por força da ideologia do negacionismo, o cenário foi ladeira abaixo. Em 2020, por exemplo, o imunizante contra a hepatite B alcançou apenas 63% do público-alvo (crianças em seu primeiro mês de vida), considerando que o indicado pela OMS e pelo próprio programa brasileiro é de 95%.
Mesmo tendo um programa de imunizações que é referência mundial e um Ministério da Saúde que retomou os investimentos na área – o que inclui a participação de estados e municípios -, ainda não conseguimos voltar aos patamares anteriores, pois o retorno é sempre mais lento. Só no ano passado, depois de um grande esforço, o Brasil alcançou a recertificação de país livre do sarampo, pois vínhamos sofrendo com a circulação do vírus desde 2018 – problema que ainda ameaça o RS.
Fora isso, temos o relaxamento da população depois que muitas doenças foram praticamente extintas, além de lutarmos não apenas contra os criminosos movimentos antivacina inseridos na sociedade e a desinformação por eles gerada, mas também ante iniciativas parlamentares da extrema-direita tirando a obrigatoriedade para que pais ou responsáveis vacinem as crianças.
O fato é que uma criança não pode sofrer pela irresponsabilidade dos adultos. O fato é que Vacina salva e que o negacionismo pode matar. Vacinar é Cuidar, é Proteger, é Amar.
(Artigo originalmente publicado no jornal Diário de Santa Maria – edição de 24 de julho de 2025)