por Valdeci Oliveira –
Diz a máxima, e o bom senso, que ceder a chantagens não é a melhor alternativa para a vítima, seja em que situação for, pois além de imoral se trata de algo criminoso. Além disso, uma vez acatada, o chantagista continuará, infinitamente, a utilizar o expediente em atendimento dos seus interesses escusos. No caso do presidente Donald Trump e seus ataques ao Brasil, os interesses do líder estadunidense em nada dialogam com a defesa verdadeira do seu próprio país, pois, se fosse o caso, apesar de condenável, até daria para levar em consideração. Há pelo menos 16 anos que os norte-americanos têm saldo positivo na troca comercial com o Brasil. Além disso, se trata de uma manobra que trará inflação ao seu próprio provo. Aplicar 50% de taxa em todos os produtos brasileiros exportados aos EUA e abrir investigação comercial contra o Brasil miram nossa soberania, nossa autodeterminação e, está mais do que claro, livrar da pena um criminoso prestes a ser julgado culpado por inúmeros crimes. Chega a ser inacreditável que, neste segundo caso, o da investigação comercial, os argumentos sejam o meio ambiente (coisa que Trump e seus seguidores, inclusive os da extrema-direita brasileira, nunca deram a mínima), a ferramenta de pagamento PIX (como se ele, Trump, tivesse legitimidade para questioná-lo), as chamadas bigh techs (para que continuem a disseminar em nosso território desinformação e discursos de ódio) e a falta de combate à corrupção (como se isso, se verdadeiro fosse, estivesse em contrariedade à formação do caráter do atual inquilino da Casa Branca).
Noves fora, para toda pessoa não alienada ao que acontece na geopolítica, tais argumentos não passam de narrativas tão verdadeiras quanto uma cédula de R$ 3. E essa avaliação não é minha, mas das entidades representativas do setor produtivo nacional – agro e indústria, para ficar nos principais -, juristas, analistas políticos e profissionais com atuação no campo das relações exteriores. O que tem sido até aqui ameaças nos mostram que a postura brasileira, de buscar respeito, firmar parcerias para além do País do Norte e defender seu lugar no mundo civilizado incomoda muita gente, principalmente aqueles que, à luz da guerra fria e da nova ordem mundial construída no pós-guerra, ainda nos consideram seu quintal .
Enfrentar com racionalidade, firmeza, diplomacia, medidas legislativas, articulação e diálogo com segmentos do empresariado nacional a mais essa ação típica de valentão que se comporta como xerife e imperador do mundo , com apoio do bolsonarismo – incluindo sua versão sapatênis , aquela da centro-direita que se diz isenta -, mostra que a postura e movimentos políticos executados até aqui pelo presidente Lula estão no caminho certo. Com os atos insanos e unilaterais de Trump e seus asseclas, Lula teve a oportunidade de falar a um público muitas vezes arredio a ele e mostrar quem de fato defende o país e os interesses e direitos dos brasileiros, independentemente se são de esquerda, centro ou direita. Neste ponto, somos um só povo, um só desejo, um só país que cansou da divisão forçada e da polarização que cega. Lula nunca fez pouco caso das suas responsabilidades nem negou seu amor e respeito ao Brasil. Da mesma forma, jamais fugiu para a disneylandia em momentos de crise, nunca conspirou contra a República e sempre enfrentou as adversidades de cabeça erguida e peito aberto. E esse histórico lhe garante a confiança do povo brasileiro, que sabe que seu patriotismo não é e nunca foi de ocasião.
E esse capital político, construído em décadas de luta sindical, de defesa do trabalho e salários justos para todos e de duas presidências exitosas, lhe confere a necessária segurança e sabedoria para dialogar e unir esforços com o diferente, com o eventual opositor e até mesmo com aqueles que num passado recente apoiaram, inclusive, sua injusta prisão. Como estadista, Lula sabe que no plano macro esses detalhes se configuram em coisas menores diante da relevância dos interesses dos homens e mulheres que cotidianamente constroem nossa nação.
Esse histórico de Lula se reflete no apoio recebido tanto da opinião pública e das principais lideranças políticas quanto de representantes da Câmara Americana de Comércio para o Brasil e de grandes multinacionais, que sabem se tratar de um jogo onde todos perdem. Assim, chancelam a posição brasileira por uma negociação que busque, sem abrir mão da nossa soberania, rever a questão das alíquotas.
Se no momento o “mar” se mostra revolto, o “capitão do navio” está firme no “leme” e, com a ajuda de mais de “200 milhões de marujos”, fará com que a nau volte novamente a navegar por águas mais tranquilas. E se depender exclusivamente de Lula, assim será.
Foto: Ricardo Stuckert/PR