Por Valdeci Oliveira –
Diante de cenários desoladores e de previsões meteorológicas ainda preocupantes, ao mesmo tempo em que a tristeza tenta tomar conta de mim, a esperança surge e dá um ‘passa prá lá’ na aflição. E ela, a esperança, não vem do nada. Ela aparece em várias formas, rostos e atos. Surge com os milhares de homens e mulheres, voluntários anônimos, trabalhando no resgate e apoio às vítimas do maior desastre ambiental já visto e vivido no RS e em nosso país. Ela surge com a união entre diferentes entes públicos, que colocam de lado suas diferenças político-ideológicas e elegem a vida como bem maior. Ela aparece quando o governo federal cumpre com a sua obrigação, arregaça as mangas, faz a sua parte e trabalha junto com a população. Ela se concretiza quando adversários políticos firmam pactos de convivência em nome do que realmente importa.
E assim, esse somatório de ‘vontades’ acaba dando forma a um corpo único, cujos membros ganham musculatura para agir. Não se trata de uma tarefa simples, pois a dimensão do problema só teremos quando as águas baixarem. E esta segunda etapa irá exigir ainda mais união e sinergia, pois será para a reconstrução de grandes extensões de infraestrutura, por colocar de pé nosso sistema de saúde, para recuperarmos empregos e capacidade de produção, para devolvermos os sonhos a quem tudo perdeu. E isso, novamente, faremos de forma coletiva, estendo a mão a quem precisa, contribuindo da forma e com tudo o que pudermos.
Por outro lado, diante de quadro tão dramático, me revolta o que tenho visto nas redes sociais e em aplicativos de conversas. Me causa repulsa a enxurrada de mentiras e meias verdades, me choca ver que distorções da realidade são feitas com o intuito de fazer desacreditar importantes ações – mesmo que estas sejam obrigações dos governantes. O que certos grupos políticos estão praticando é comparável aos saques a mercados e residências que precisaram ser abandonadas, aos picaretas que pedem contribuições via PIX para benefício próprio. Nada os difere dos bandidos que roubam quem tudo ou quase tudo perdeu. Não são menos piores que os mais de 30 criminosos que foram presos pela BM nos últimos dias, pois de suas ações – que encontram grande difusão pela internet – vêm o descrédito, chegando ao cúmulo de pessoas ficarem em dúvida de enviarem donativos por caminhões ou colocar embarcações particulares a serviço de resgates. E o fazem com objetivos eleitorais, sujando suas mãos de sangue e suas almas com a dor dos milhares de desabrigados. Não há escrúpulos em seus atos, da mesma forma em que não há verdade em suas palavras.
Mas como dizem os mais antigos, os cães ladram enquanto a caravana passa. E as “caravanas” que estão sendo enviadas ao estado são feitas de respeito e de compromisso com a vida, com as leis.
E nesta última leva, Santa Maria foi contemplada pelo governo federal com a duplicação dos recursos para que a cidade invista na prevenção de desastres, na contenção de encostas. Inicialmente estavam previstos R$ 16 milhões, mas a União ampliou os recursos, que agora somam R$ 33 milhões. Com isso, serão realizadas obras na Rua dos Canários, no Bairro Itararé, e na Rua João Leonel Teixeira, na Vila Churupa, também na Região Norte.
Nós defendemos junto ao ministro Paulo Pimenta que a verba fosse reforçada e ele articulou isso com diferentes órgãos federais. Diante da tragédia que atinge o RS, todas as propostas para obras de contenção de encostas estão sendo atendidas, num total de R$ 150 milhões.
Tenho defendido em todos lugares onde vou que disputas políticas devem ficar em segundo plano, não dando espaço para a divergência ideológica. E nesse esforço que não é só meu, mas coletivo, foi batido o martelo para que o estado tenha o pagamento de sua dívida com a União paralisada e a destinação emergencial de mais R$ 1 bi em emendas parlamentares.
Contamos ainda com mais de 20 mil homens e mulheres das forças de segurança atuando no resgate de milhares de vítimas, além de diversos aviões, helicópteros e embarcações de diferentes tamanhos e finalidades. Não existe mágica nem milagres. O que existe é trabalho de verdade sendo feito com a ajuda da população, de países e estados vizinhos.
O pacote com medidas para socorrer o RS inclui 12 ações, que juntas somam R$ 50 bilhões, incluindo crédito para famílias, empresas e pequenos agricultores, beneficiando mais de 3,5 milhões de pessoas. E isso, inacreditavelmente, parece justificar todo o discurso de ódio e fake news espalhadas por quem, durante outras tragédias, num passado não muito distante, ignorava ‘moticiatas’ e passeios de jet ski.
A vida das pessoas deve estar em primeiro lugar, e se não trabalharmos juntos, de forma racional e civilizada, não haverá saída para essa crise, não haverá dia seguinte. Apostar no quanto pior melhor é insano, é criminoso, é desumano.
Foto: Marcello Casal/ EBC