Por Valdeci Oliveira –
Apesar do negacionismo de alguns, a cada dia que passa temos visto e experimentado os efeitos negativos do aquecimento global sobre o nosso clima e as adversidades que temos que enfrentar por conta disso. Meses de estiagem intercalados por períodos com chuvas e ventos fortíssimos têm nos trazido prejuízos, tanto de ordem financeira – lavouras perdidas e infraestrutura danificada – quanto em dor por conta da perda de vidas e destruição de moradias de milhares de famílias.
Esse conjunto de sinais evidentes que integra o que podemos chamar de ‘tragédia anunciada’, tem forçado as nações a buscarem alternativas energéticas limpas e renováveis em substituição à queima de combustíveis fósseis, o principal vilão deste mal da modernidade.
E é justamente neste cenário que o Rio Grande do Sul poderá vir, assim como vários estados do nordeste brasileiro, a dar a volta por cima e se colocar como exemplo de suficiência energética sem que para isso polua e destrua o seu meio-ambiente. E o pode ser com um ativo abundante por aqui, vindo da natureza e que nossa posição geográfica permite desfrutar de forma quase infinita: os ventos.
Atualmente o Rio Grande do Sul – o primeiro estado a apostar nesse sistema – tem 81 parques eólicos em operação e conta com 48 novos projetos em andamento, em diferentes fases de aprovação, além de ocupar a quinta posição – já estivemos na segunda – em geração desse tipo de energia no país, ficando atrás do Rio Grande do Norte, Bahia, Piauí e Ceará.
E isso não é pouca coisa. Mas ainda temos muito potencial para ser explorado. Hoje consumimos cerca de 11 gigawatts de energia a cada mês e importamos em torno de 30% do total de que necessitamos. Segundo dados da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), a geração eólica no RS já responde por algo em torno de 17% da energia produzida por aqui – cerca de 1.835 gigawatts. A maioria das propostas para novos parques em andamento concentra-se em municípios localizados ao longo das regiões da Campanha, Fronteira Oeste e Litoral Sul.
Trabalhar na recuperação do protagonismo do nosso estado nesse importante segmento e aproveitar todo o potencial que temos é a certeza de estarmos no caminho certo a ser trilhado, principalmente se considerarmos que a conjuntura nos coloca diante de um momento em que o Brasil e o mundo discutem muito a transição da geração de energia.
O futuro, ou a busca para que tenhamos um atrelado à qualidade de vida e à natureza preservada, é com tipos limpos, renováveis e sustentáveis, que não nos cause mais problemas do que soluções ou que nos cobre um preço alto demais para ser suportado enquanto seres humanos. E o Rio Grande tem que estar presente com força nessa pauta, se mostrar preparado e em condições de receber investimentos na área.
E foi com esse objetivo e de olho nas oportunidades que, a convite e como integrante da Frente Parlamentar Pró-Energias Renováveis da Assembleia Legislativa do RS, cuja coordenação está a cargo dos colegas Luiz Fernando Mainardi (PT) e Frederico Antunes (Progressistas), estive, dias atrás, no Norte da Espanha, em missão pelo Legislativo gaúcho buscando, em visitas técnicas, conhecer a fabricação de componentes, o nível de interesse em termos de expansão de negócios e articular convites para que executivos venham investir na metade sul do estado.
Como uma dupla de caixeiros-viajantes, fizemos, eu e Mainardi, propaganda do nosso produto e apresentamos dados demonstrando ser concreto o ambiente e disposição para uma parceria que poderá se mostrar frutífera para ambos os lados. A constância de ventos e mão de obra qualificada disponível, aliadas à disposição do governo federal, que sinalizou haver possibilidade de se criar uma espécie de fundo para aumentar a capacidade competitiva do estado na área, foram outros elementos por nós apresentados.
São vários os pontos a serem ‘amarrados’, o que exigirá trabalho, negociação e uma boa dose de convencimento, nada que nos faça ‘se entregar pros home’ ou desacreditar que sim, o RS pode voltar a ser um dos principais produtores nacionais desse tipo de energia.
Nessa missão, também aprendi muito. Entre os ensinamentos que absorvi, está o de que os países ditos ‘desenvolvidos’, que outrora eram chamados de ‘primeiro mundo’, também precisam de novos mercados para sobreviver, aplicar seus recursos em negócios seguros, rentáveis, com retorno garantido. E inserir o Rio Grande do Sul neste rol de opções globais está dentro desta lógica em que ambos os atores ganham. E no nosso caso, não somente energia limpa, mas desenvolvimento regional, geração de empregos, renda e divisas para o nosso estado.
E não tenho dúvida: vou continuar peleando, seja dialogando com o governador seja abrindo portas em Brasília. O que importa é não perdermos o bonde da História. Ou como o gaúcho gosta de lembrar: o cavalo encilhado não passa duas vezes.