Por Valdeci Oliveira –
Analogias são boas para representar uma ideia e até mesmo dar a dimensão de algo que queremos expressar. Por mais reducionistas que sejam, em não se tratando de um debate de fôlego – que é o objetivo deste artigo – elas, as analogias, são sempre bem-vindas. Faço esse preâmbulo, porque, na última quarta-feira (13), assinamos a prorrogação por cinco anos do termo de cooperação que conferiu caráter legal ao Movimento Rio Grande Contra a Fome, este subscrito originalmente em 2022. E a analogia em questão a faço com a figura de uma criança.
O Movimento nasceu no ano passado, quando em junho deu seus primeiros passos. Desde então, aprendeu, não sem a ajuda e participação de muitos, a falar e a andar sozinho. Neste período, a criança amadureceu e cresceu. Mas como todo ser humano ainda na fase pueril, precisa de apoio e de certos cuidados, pois, mesmo apta a caminhar com as próprias pernas, toda criança necessita de um terreno firme, com um mínimo de obstáculos e um calçado adequado para seguir com segurança pela estrada – que esperamos sempre longa – da vida.
Nos próximos anos, serão estas as necessidades do Movimento Rio Grande Contra a Fome, a força-tarefa criada quando ocupamos a presidência do Parlamento gaúcho para ações de combate à insegurança alimentar no RS e que reúne, além dos poderes instituídos – Assembleia Legislativa, Governo do Estado, Tribunal de Justiça, Ministério Público, Tribunal de Contas e Defensoria Pública – diversas outras instituições, entidades e organizações civis que desde o ano passado têm somado ações e esforços na arrecadação de alimentos que, via Defesa Civil Estadual, são destinados às parcelas mais vulneráveis da população.
Ouso dizer que, de tão querida e simpática, a criança tem hoje a sociedade gaúcha – e por escolha própria – como a sua tutora. E a sociedade tem esta legitimidade, porque assumiu junto conosco a tarefa e buscou assumir o seu papel como protagonista, como partícipe na ‘criação’ da criança nesta que é uma ação que tem como objetivo diminuir a fome, a miséria e a desigualdade social. E isso somente foi possível porque houve unidade e determinação de todos e todas que acreditaram e acreditam nesse projeto, que neste momento pertence a todo o estado do Rio Grande do Sul.
A ‘criança’ hoje, apesar de pequena, com sua desenvoltura e articulação, tem conquistado trânsito livre em inúmeros ambientes, que a tratam com respeito e buscam ouvir seus argumentos. Argumentos simples para uma questão complexa, mas que calam fundo junto aqueles que veem o tema da fome de forma clara, como algo grave, sério, inaceitável e que não pode ser normalizado.
De instituições públicas – incluindo Câmaras de Vereadores como a de Santa Maria – a entidades empresariais, todos foram convencidos pela ‘criança’ que se tratava de um movimento pluripartidário, que aos poucos e de forma gradativa avançou para além das fronteiras da Casa Legislativa gaúcha e das administrações dos demais Poderes, que assumiram conosco essa tarefa de criar e zelar pelo pequeno ser e, de forma colaborativa e participativa, trouxeram novos integrantes. E com o mesmo entendimento, os recém-chegados ampliaram ainda mais os círculos de cuidados e de criação.
E assim como um infante que cresce e se adapta ao ambiente em que vive, com os efeitos da crise climática que têm assolado diversas regiões gaúchas, neste ano o Movimento Rio Grande Contra a Fome se diversificou. Além de alimentos não perecíveis, os ‘pais e mães’ que o integram passaram também a recolher água, roupas, produtos de limpeza e ração para animais. A mais recente ação desta verdadeira família resultou no lançamento, por parte da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social, de edital para a compra de 74 mil cestas básicas diretamente da agricultura familiar, com recursos – R$ 20 milhões – vindos diretamente do orçamento do Legislativo.
Desta forma, foi possível atuar em duas importantes frentes ao mesmo tempo, pois os produtores familiares sofreram tanto com a seca quanto com as enchentes, chegando, em inúmeros casos, a não ter sequer alimentos sobre a própria mesa.
Com o amadurecimento da ‘criança’, que foi embalada e protegida com rigor e responsabilidade nesses quase dois anos de vida, o carinho e respeito conquistados até aqui foram resultados até que naturais. E da mesma forma, daqui para frente, com muito ainda a ser vivido – e feito – não poderá haver, como até hoje não houve, nenhum descuido com a sua saúde nem negligência com seu bem-estar.
Como escrevi no início deste artigo, o Movimento Rio Grande Contra a Fome, apesar de fortalecido e amplamente atuante, ainda é uma criança. E justamente por isso precisa da atenção devida de toda a sociedade. E garantir tudo isso a ele será o compromisso, não apenas meu, mas, tenho certeza, de todos e todas que o integram.
Pois, enquanto houver alguém com fome, não podemos cruzar nossos braços.
Foto: Divulgação/Ação da Cidadania