“São mulheres e homens que muito lutaram, cotidianamente lutam e muito ainda lutarão para que a data de 20 de novembro seja um dia de reflexão, que chame a atenção da sociedade para seu próprio comportamento e postura diante de algo vil, inaceitável e criminoso que é o racismo”. Com essa afirmação, o deputado Valdeci Oliveira, que representou a bancada do PT na Assembleia Legislativa, abriu o seu discurso na Sessão Solene alusiva ao Dia Nacional da Consciência Negra, na tarde desta quarta-feira (17/11). Na mesma solenidade foi realizada a entrega dos troféus Deputado Carlos Santos e medalhas Zumbi dos Palmares à Ìyálórìṣà da Sociedade Beneficente Ilê Afro Xangô Ibeji, empresária e produtora cultural e social Claudia Cardinali dos Santos Fontoura; ao músico, produtor cultural e cenotécnico pesquisador do tema História dos Lanceiros Negros e Cultura Popular, Elvino Santos; à antropóloga Eva Maria Dutra Pinheiro; ao quilombola Manoel Francisco Antônio e ao professor Vagner Garcez Soares
Para Valdeci, é preciso manter a reflexão sobre a luta dos nossos antepassados negros e sobre todo o racismo ainda existente em nosso país não somente agora na Semana da Consciência Negra, mas ao longo dos 365 dias do ano. “Falo aqui em homens e mulheres, do recém-nascido que está iniciando hoje sua jornada ao mais idoso, a mais longeva mulher preta, que trazem na memória todo um processo de luta, de conquista de espaços e respeito numa sociedade por vezes fortemente guiada pela injustiça e pelo preconceito”, disse.
A cerimônia realizada na Assembleia Legislativa tem o objetivo de reconhecer e mostrar o compromisso com a luta contra a discriminação e o racismo. “Por isso mesmo, essa solenidade traz embutida uma mensagem para que não se aceite por exemplo que, em hipótese alguma, uma figura da República, durante uma sessão do Senado federal, faça o gesto símbolo dos supremacistas brancos. Que essa premiação hoje aqui conferida a homens, mulheres e entidades que lutam em defesa da verdadeira paz – aquela em que ninguém é excluído, marginalizado, morto, vítima de chacota ou desdém por conta do seu tom de pele -, seja um recado duro a todas as formas, sejam econômicas, políticas ou sociais de racismo”, sentenciou Valdeci.
Ainda para o deputado, a outorga dos troféus e medalhas deve ser vista também como repúdio a casos como o de João Alberto Silveira Freitas, espancado até a morte por seguranças de um supermercado na capital; do angolano Gilberto Almeida, baleado, preso e tratado como bandido perigoso por não ser branco; da voluntária e técnica de enfermagem negra, agredida verbalmente em Pelotas por um homem descontente por ela apenas cumprir o seu trabalho; do assassinato do músico Evaldo dos Santos Rosa e do catador Luciano Macedo, mortos com mais de 200 tiros disparados por militares no Rio de Janeiro. “Que essa premiação seja símbolo do repúdio a quem se refere a quilombolas como se estes fossem gado, cujo peso é medido em arroba, principalmente quando esta fala sai da boca do presidente da república. Que seja uma mostra de que para este Parlamento, todos merecem e têm direito à cidadania, ao emprego digno, a uma renda decente, à escola e à saúde. Que seja um recado de que o Parlamento estará sempre de portas abertas às diferentes representações da negritude e seja um espaço de valorização dos Lanceiros Negros, por vezes ignorados e não reconhecidos com o devido valor quando falamos da nossa história”.
Para finalizar, Valdeci lembrou o que muitos parecem ter esquecido, de que racismo é crime. “Essa premiação que hoje temos a honra de conceder é o reconhecimento deste Parlamento à luta de vocês, pretos e pretas, que a fazem todos os dias, pois não haverá igualdade sem a superação do racismo estrutural ainda cravado no Rio Grande, no Brasil e no mundo. E combater o racismo é dever de brancos e pretos. Viva Zumbi, viva Dandara, viva João Cândido e viva Carlos Santos”.
Também foram entregues as medalhas Zumbi dos Palmares ao Movimento Negro Raízes e à Associação Comunitária Quilombola dos Teixeiras de Mostardas/RS.
(Fotos: Joel Vargas/ALRS)