Como representante de Santa Maria e da Região Central na Assembleia Legislativa e como histórico defensor da universidade pública, gratuita e de qualidade, não posso compactuar ou mesmo silenciar ante a manifestações que, de forma oportunista, tentam hoje demonizar as instituições de educação pública do país. Assim como fiz no último domingo (10), na minha página no Facebook, quero reforçar o repúdio ao pronunciamento feito pelo dono da Havan durante a inauguração de uma unidade do grupo em Santa Maria, nesse final de semana. De antemão, sublinho que as referidas declarações – divulgadas amplamente nas redes sociais e na imprensa – já nascem incoerentes, pois o empresário em questão agride as universidades públicas ao mesmo tempo que dá por instalada, com pompa e circunstância, uma das suas megalojas dentro de uma cidade cuja economia depende majoritariamente de uma universidade pública. Ou será que a Havan irá recusar a extensa clientela de alunos e servidores da UFSM?
Mais do que incoerente, a fala dirigida às universidades espanca a realidade e contradiz a história. A UFSM, por exemplo, é reconhecida, nacional e internacionalmente, pela qualidade do seu ensino, da sua pesquisa e da sua extensão, e não por ser uma formadora de “alunos-zumbis”. A UFSM, assim como as universidades públicas do país, permite que pessoas de baixa renda ingressem no ensino superior, modifiquem a condição social desfavorável das suas famílias e tornem-se, inclusive, parte importante do mercado consumidor brasileiro.
Outro grave equívoco cometido no discurso foi comparar instituições educacionais completamente distintas a partir do viés do corte de cabelo e da roupa utilizada pelos estudantes, o que identifica muito mais uma postura de discriminação do que uma argumentação séria.
Felizmente, não fui convidado a participar da cerimônia onde foi pronunciada essa série de impropérios. Se lá estivesse, no mínimo, teria abandonado o recinto para não respaldar tamanho desrespeito a um setor que, há décadas, gera centenas de empregos e múltiplas receitas e produz inúmeros projetos em benefício de Santa Maria e do Rio Grande do Sul.
Além do repúdio, chamo a atenção para um objetivo aparentemente invisível nesses ataques reiterados ao setor educacional: a tentativa de viabilizar um ambiente nacional favorável à privatização das universidades públicas. Há “testas de ferro” de plantão atuando país afora com esse intuito. É a velha estratégia em curso de, primeiro, difamar, precarizar e sucatear para, ato contínuo, privatizar. Não passarão! Vida longa às universidades públicas! Vida longa à inclusão social via a educação! Empregos são sempre bem-vindos, mas a difamação da educação pública e das universidades públicas é completamente desprezível e dispensável.
Valdeci Oliveira, deputado estadual (PT)