Mandato cobra informações sobre abastecimento de medicamentos e oxigênio na rede hospitalar

Diante dos inúmeros relatos de gestores hospitalares, prefeitos e de trabalhadores da saúde sobre o iminente risco da falta de insumos médicos na rede pública e privada de saúde para o tratamento das pessoas internadas por conta do novo coronavírus no estado, o deputado Valdeci Oliveira indagou a Secretaria da Saúde na manhã desta quarta-feira (24/3) sobre esta realidade. O questionamento do parlamentar foi feito durante a reunião ordinária da Comissão de Saúde e de Meio Ambiente (CSMA) da Assembleia Legislativa, diretamente à secretária Arita Bergmann, após a apresentação do relatório do 3º quadrimestre de 2020 da gestão da pasta. Valdeci
quis saber se o Rio Grande do Sul corria o risco concreto de vivenciar, como em outras unidades da federação, a falta de oxigênio medicinal e medicamentos, principalmente aqueles destinados à sedação de pacientes, nas unidades de saúde gaúchas. “Busquei os devidos esclarecimentos porque as informações que temos recebido são de que isso pode vir a acontecer muito em breve. E não podemos esperar mais. Neste momento em que se está, com o aval do governo, relaxando ainda mais as medidas de mobilidade social e os números de infectados e de óbitos não param de crescer, o mínimo que um gestor público tem de fazer é garantir que não faltem medicamentos à população, não faltem leitos, não falte acolhimento digno”, afirmou Valdeci. O parlamentar lembra, ainda, que só em março, que ainda não findou, com 4,3 mil óbitos, o estado já registrou 25% de todos as mortes desde o início da pandemia, um ano atrás.

Segundo a secretária Arita, hoje o grande problema se chama medicação, e, há um mês, a pasta alertou o Ministério da Saúde de que poderia haver desabastecimento e que o governo federal teria de se mobilizar para importar 21 tipos de insumos, entre eles anestésicos, sedativos e neurobloqueadores musculares. De acordo com a gestora, uma solução a curto prazo é a entrega, a partir de amanhã, de produtos já adquiridos resultantes da fatia que cabe ao Rio Grande do Sul por conta do estado ser partícipe da chamada Ata de Registro de Preços do Ministério da Saúde. “E de hoje até sexta-feira, a SES estará fazendo um pregão para a compra de medicamentos”, afirmou, sem garantir de que haverá fornecedores interessados. Considerando o que está para chegar nos próximos dias, Arita diz que haverá, segundo os cálculos da secretaria, medicamentos suficientes para os próximos sete dias, além de estar recomendando o remanejo de insumos entre as prefeituras, pois, segundo ela, algumas teriam adquiridos quantidades acima da necessidade de consumo, e trabalhando em protocolos de substituição dessas medicações. Ainda segundo Arita, também será necessário importar medicamentos, pois a indústria nacional, diante da alta de casos e internações, não terá condições de suprir a demanda.

Quanto ao suprimento de oxigênio, não foram dadas respostas definitivas. Arita informou apenas que contatos foram feitos com as maiores empresas produtoras instaladas no estado e hoje a tarde haverá uma reunião com uma dessas indústrias, por isso a necessidade de esperar pelo encontro para se posicionar. E que também já havia alertado o Ministério da Saúde sobre a dificuldade de compra de cilindros, pois esse tipo de equipamento é utilizado em UPAs e pequenos hospitais, que observaram um aumento significativo no consumo, enquanto os de maior estrutura utilizam tanques que são abastecidos por caminhões. “Não é da expertise ou da tradição do estado fazer a aquisição desses dois insumos. Estamos trabalhando para evitar o colapso no abastecimento desses dois itens”, afirmou.

“O que vimos e ouvimos nos mostra que temos de ficar atentos, pois não há garantia alguma de que não faltarão tanto medicamentos como oxigênio nas unidades de saúde. Isso é algo inaceitável, pois o colapso, diante das escolhas políticas feitas para barrar a transmissão do vírus, era previsível e vínhamos alertando faz algum tempo. E não era simplesmente algo da nossa cabeça, era a partir das análises de pesquisadores e especialistas que apontavam este cenário”, afirma Valdeci, que encaminhará ao governo do estado um novo pedido oficial de informações detalhadas sobre a real condição do sistema público de saúde no RS.

Foto: Divulgação EBC