Artigo – Uma injeção de responsabilidade social, empatia e solidariedade

Com a derrota sofrida nas prévias do seu partido, no final de novembro, o chefe do executivo estadual, que postulava ser o candidato a presidente pela legenda, não tem mais desculpa nem algo que tire sua atenção para os verdadeiros e graves problemas vividos pelo povo gaúcho. Apesar de legítimo o seu desejo de ser o nome do tucanato na disputa ao mais alto cargo da República, a partir de agora o governador Eduardo Leite precisa cumprir o papel a que realmente foi eleito. A política tem dessas coisas, e o indicado, nesses casos, é “lamber as feridas” e continuar a vida. Não há mais necessidade de viajar pelo país atrás de votos para a indicação nem perder o sono, energia e tempo na formulação de estratégias de convencimento de seus pares. A vida real é aqui e agora, com desafios que não desaparecem pela simples vontade pessoal ou por não serem encarados de frente.

E o que não faltam, no RS, são gargalos a serem resolvidos ou, ao menos, amenizados. Continuamos tendo o desemprego à espreita em cada esquina, como um fantasma a assombrar quase 9% da população gaúcha. Se considerarmos os homens e mulheres em idade ativa subutilizados – desempregados, em busca de emprego ou disponíveis para iniciar um trabalho ou trabalhando menos do que 40 horas semanais – chegamos a 1,13 milhão de pessoas, uma taxa de 18,8%. Estudo elaborado pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), aponta que “no período que considera os últimos 12 meses com dados disponíveis – junho/2020 a maio/2021 -, o saldo de empregos formais no RS chega a 152.441 vagas, variação de 6,21%, abaixo da média nacional (6,80%), o que coloca o Estado na 22ª posição no ranking do país”.

Com o encerramento das prévias do seu partido, apelo ao governador que olhe com mais carinho para o nosso Rio Grande e inclua os pobres no orçamento público. São clamores que dizem que o RS não é feito apenas pelo “andar de cima”, muito pelo contrário. Essas vozes lembram que quem o constrói no dia a dia são milhões de não-privilegiados, que pagam mais de R$ 600 por uma cesta básica, que não têm planos de saúde privados e dependem única e exclusivamente do SUS, que fazem uma ginástica insana na esperança do salário durar o máximo possível no mês, que não têm acesso a crédito para tocarem seus pequenos negócios.

Ao cumprir o seu papel delegado pelas urnas, que deixe o marketing para as propagandas eleitorais do ano que vem e acolha a proposta da bancada do PT na Assembleia que propõe a implementação do crédito emergencial da agricultura familiar, pois os trabalhadores e trabalhadoras do campo estão sem assistência e precisam de apoio para seguirem produzindo e alimentando as cidades. Que dispense a eles o mesmo tratamento ofertado aos grandes grupos empresariais – rurais ou urbanos – que nunca encontram as portas do Palácio Piratini fechadas nem as agendas dos secretários sem espaço para recebê-los.

Apelo que dê uma justa e sincera atenção ao auxílio emergencial gaúcho, que mergulhe de corpo e alma nesse problema grave que é a fome, pois faz quase 8 meses que a proposta foi aprovada na Assembleia Legislativa, mas apenas uma minoria de mulheres mães que vivem na pobreza absoluta teve acesso ao benefício. A fome, governador, é inaceitável. E não fazer nada ou pouco para debelá-la é desumano, além de indigno para qualquer líder político com cargo eletivo.

Nesse seu retorno ao posto de chefe da máquina pública, suspenda o Programa Assistir, uma medida imoral e fora de lógica, que em plena pandemia e diante de uma grande demanda reprimida por atendimentos médicos promove cortes substanciais de recursos no orçamento de inúmeros hospitais gaúchos que prestam atendimento via Sistema Único de Saúde. Quem vai realmente sentir o resultado disso na carne não é o senhor, mas a população. Na dúvida, se coloque no lugar dela e imagine como seria a sua vida nessa realidade.

Mas como temos visto desde o início de 2019, aqui no estado – assim como na esfera federal -, estar no governo não basta. É preciso mais do que isso. É preciso responsabilidade social, empatia, solidariedade, promover a justa divisão dos ganhos que são produzidos por todos e ter no servidor público um aliado para o aprimoramento da gestão.

Governar não é privatizar a água pública, a energia, as estradas e a pesquisa, abrindo mão das responsabilidades em detrimento de interesses outros. Governar não é reduzir os investimentos com base num teto de gastos que retira recursos de áreas como saúde e educação pela próxima década, como aprovado pela base aliada do governador no Parlamento na semana passada, precarizando ainda mais setores já esgualepados pela falta de apoio. Governar não é deixar milhares de homens e mulheres sem reajuste há mais de sete anos enquanto a inflação corrói seus rendimentos.

Governar é, antes de tudo, enxergar os “invisíveis”.

Artigo originalmente publicado no site www.claudemirpereira.com.br

Foto: Arquivo CPERS