Artigo – A invisibilidade das sequelas da covid-19 precisa ser enfrentada

Por Valdeci Oliveira –

Nesta semana, em Porto Alegre, tive a oportunidade de debater um tema que, apesar de ser extremamente importante, está, ao meu ver, bastante relegado das discussões públicas e midiáticas. Falo da (pouca) atenção dada ao tratamento das pessoas que apresentam sequelas da covid-19. 

No encontro realizado com representantes da Associação das Vítimas de Covid-19 (Avico), da Associação Nacional em Apoio e Defesa dos Direitos das Vítimas da Covid19 – Vida e Justiça, Conselho Estadual de Saúde (CES) e Conselho Nacional de Saúde (CNS), recebi relatos preocupantes no que diz respeito principalmente à falta de dados e de políticas públicas consistentes em relação ao problema.

Conforme os integrantes dessas entidades, pouco se sabe, de maneira oficial, sobre o número de órfãos, as demandas reprimidas e os tipos de enfermidades a que as vítimas estão sujeitas ao longo do tempo. Os relatórios hoje disponibilizados concentram-se no número de contaminados, de recuperados e de óbitos e ignoram as pessoas que ficaram acometidas por tromboses e doenças articulares e neurológicas, que se manifestam meses depois da contaminação.

Outros dramas apontados foram a baixa ou nenhuma assistência concedida aos órfãos da pandemia – estima-se que, no RS, existem mais de 500 pessoas que perderam os pais pela covid -, o não acesso a dados qualificados de pessoas assintomáticas que também sofrem hoje com doenças respiratórias, entre inúmeras outras, e o fato de muita gente não estar tendo acesso a medicamentos e a tratamentos fundamentais, como é o caso da fisioterapia respiratória.

Contra esse cenário de “abandono” por parte dos setores competentes para garantir o mínimo de atenção a quem segue sofrendo as consequências do coronavírus, a reivindicação apresentada é retirar esse tema da invisibilidade que se encontra.

Entre as deliberações do encontro, estão a criação de uma Frente Parlamentar em Defesa das Vítimas da Covid-19 e a realização de uma grande audiência pública com a participação do maior número possível de atores envolvidos com a questão – como a Secretaria Estadual da Saúde (SES), a sociedade civil e as universidades – para, a partir delas, formatar encontros regionais de discussão de ações que auxiliem na construção de políticas públicas às pessoas que tratam ou precisam de acompanhamento por conta das sequelas da doença.

No encontro, não só afirmei que o Parlamento gaúcho se solidarizava com a gravidade das questões levantadas como também acolhia as sugestões feitas, que se encaixam perfeitamente nas ações previstas da gestão. Também orientei que o Fórum Democrático da Assembleia, juntamente com as organizações, de forma coletiva, articule a realização desses debates.

De forma alguma, se pode naturalizar o que está acontecendo. É crucial que seja dada visibilidade às vítimas da covid-19 para que o Estado possa estabelecer políticas públicas concretas voltadas a elas. A Casa dos Grandes Debates do Rio Grande do Sul também vai ser protagonista e parceiro dessa luta!

(Artigo originalmente publicado no site www.claudemirpereira.com.br)